Pular para o conteúdo principal

GIRLS DON´T CRY


Letícia entrou na casa, excitada e feliz. Estava com saudades do seu passado, com medo do seu futuro, com saudades daquela casa, de tudo aquilo que viveu por anos e anos.
- Quer um café? – Mônica perguntou.
Letícia apenas balançou a cabeça negativamente. Nada disse.
- Um destilado, uma cerveja, um refrigerante, uma água com gás. Quer alguma coisa? Qualquer coisa? – Mônica insistiu – Não é por você ser apenas você que vou negar uma bebida ou qualquer coisa que o valha – completou, irônica.
- Não, obrigado Mônica. Estou bem. Estou muito bem.
Mônica ficou em silêncio, apenas observando os passos de Letícia ao longo da sala. Ficou a admirando como se ela ainda fosse uma criança enternecida diante de um brinquedo novo.
- Fomos felizes aqui, não? – Letícia disse.
Mônica concordou, de leve, com a cabeça e respondeu – É. Fomos. Fomos bastante felizes. O tempo que tivemos para ser. O tempo que tivemos para ser. Pena que a felicidade não dura para sempre, né?
- É. A felicidade não dura para sempre e o tempo não volta jamais, não? – Letícia afirmou, ciente da babaquice plena do que estava dizendo.
Mônica riu da idiotice da antiga companheira e completou – É Letícia. De fato, o tempo não volta. Infelizmente, nenhum gênio da NASA inventou uma máquina desta natureza. Somos obrigados a viver com as escolhas que fizemos, com as opções que tomamos. Apenas isso. A vida é assim. Infelizmente.
Letícia a olhou com ternura e carinho e deu um breve e lindo sorriso. Daqueles que apenas ela era capaz de dar.
- Me fala – Mônica disse, inquieta – O que você quer? O que veio fazer aqui? Confesso que fiquei surpresa com o seu telefonema. Não achava que tínhamos mais nada a dizer uma para a outra, depois de tudo o que houve. Depois de tudo o que passou. O que você quer? – perguntou – Já não tivemos brigas suficientes?
Letícia a olhou com ainda mais carinho e com um sorriso ainda mais brilhante e disse – Não quero nada em especial. Nada. Não quero destilados, cervejas, refrigerantes ou água com gás e muito menos brigar. Vim apenas para me despedir. Só isso.
Mônica a olhou com espanto e perguntou – Vai viajar? Não sabia disso.
Letícia encarou Mônica com seus lindos olhos verdes e tentou conter o choro. Emendou – Vou. Vou viajar e não devo voltar logo. Vou demorar. Achei que pudesse me despedir de você. Na verdade, achei que devia me despedir de você.
Mônica quebrou a guarda e ficou em silêncio, contendo a angústia. Percebeu, só naquele momento, os rasos, os fios finos e as imensas falhas nos cabelos de Letícia. Nada disse.
- Apenas achei que seria bom dizer adeus antes de viajar – Letícia completou.
- Claro, claro – Mônica respondeu, dizendo em seguida – Sente-se. Você sabe. A casa é sua.
- Obrigado.
- Você continua linda – disse Mônica, rindo.
Letícia sorriu e respondeu – É, se eu não tivesse experimentado antes e você fosse meu tipo, te pediria em namoro de novo.
Caíram na gargalhada como crianças.
O que houve depois?
Horas e horas de conversas, confissões e revelações.
Como se o tempo não existisse.
Como apenas duas pessoas que se amaram muito podem saber.
Como se os homens da NASA tivessem descoberto alguma máquina feliz.
Apenas isso.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
APENAS RELÂMPAGOS... O beijo que você me deu sob o sol A chuva molhando os campos de maçã (Sob o Sol - Vibrosensores) Lembro que choveu MUITO naquela tarde. Muito mesmo. Mais do seria normal em qualquer outro dia, em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Tudo estava bem, mas o céu, como puro capricho, decidiu se rebelar. O céu, assim de repente, tornou-se cinza. Absurdamente cinza. Cinza chumbo, quase noite. E choveu muito mesmo naquela tarde. Como jamais eu pensei que poderia chover em qualquer outro dia normal. Em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Lembro-me que eu estava no parque central, quieto, pensando nas verdades que eu havia ouvido e arquitetando uma fuga mirabolante do viciado e repetitivo labirinto caótico que a minha vida havia se transformado. Lembro-me que não estava sol, nem tampouco abafado, e que, portanto, não havia tantas nuvens no céu capazes de provocar aquela tempestade. Não mesmo. Mas, ainda assim tudo aconteceu. Não me dei conta, e,