Pular para o conteúdo principal
DESENHOS RASGADOS

Boomp3.com

- Para mim? – ela perguntou, tímida.
- Sim – ele respondeu, sério.
- Abro agora? – ela perguntou novamente, segurando nervosamente o envelope em suas mãos.
- Não – ele respondeu, áspero.
- Não?
- Prefiro que não. Poupa constrangimentos, não?
- Ok. Faça-me um grande favor também. Abra o seu depois, tá? Em casa.
Ele concordou com a cabeça – Tá bem.
- Então ficamos assim? – ela perguntou.
- Sim. Ficamos assim – ele disse, evitando olhar para ela.
- Posso te dar um beijo?
- Claro – ele respondeu, abraçando e apertando os seus lábios contra os dela.
E o beijo acabou.
E ele virou e foi embora.
Sem olhar para trás.
Assim que ele saiu do apartamento, ela, trêmula, abriu o envelope.
O desenho era lindo.
Um coração partido sobre carvão e nanquim. Um coração devastado e partido. E uma frase curta: be happy | good luck.
Ela apertou o desenho contra o peito e chorou e chorou e chorou como se – definitivamente – não houvesse amanhã.
Assim que entrou no elevador, ele abriu o pequeno envelope carmim. Dentro, uma fita cassete daquelas que há tempos não se vê. Old fashion, démodé. Na capa um desenho lindo. Um coração escarlate, inteiro e pulsante, com uma frase curta: “te amo, imbecil”.
Ele socou a parede do elevador velho como uma criança mimada. Chorou e chorou e chorou como se – definitivamente – não houvesse amanhã.
E, na verdade, os sentimentos são tão intensos quando se desencontram. Tão intensos... e tristes. Extremamente tristes.

Comentários

Frexxxx disse…
porra, cara
=~
nunca chorei tanto com um conto seu

Postagens mais visitadas deste blog

PASSE-ME O SAL PARA EU BOTAR NA SOBREMESA?

- Não há nada a desculpar – ele disse pouco tranquilo, muito mentiroso, entre os copos de vodka, as mesas e o barulho do Clube Varsóvia, tentando desviar do olhar adorável, inesquecível e maravilhoso daquela garota à sua frente. Ele a amava. Ela o olhou com ternura e amizade e fez um carinho breve e gentil no seu cabelo. Por instantes, breves instantes, ela lembrou de todo o afeto e paixão que sentiu por ele no passado. Todo o carinho, o afeto e o amor que sentiu por ele em um passado não tão distante. Como foram felizes. - Fica tranquila – ele disse e continuou - Nada a desculpar mesmo. Tudo em ordem do meu lado – ele prosseguiu – Você gosta de MPB mesmo. Eu detesto – completou, com um sorriso. - Você mente mal. Muito mal mesmo sabia? Quase um canastrão – ela brincou e continuou – Esqueceu que te conheço há um tempinho? - Muito tempo? – ele perguntou, tentando disfarçar, enquanto acendia um Marlboro – Dentre as mentiras da vida, duas nos revelam mais – recitou, citando a antiga c...

Going Down

leia e ouça: lou reed || going down “... Time's not what it seems. It just seems longer, when you're lonely in this world. Everything, it seems, Would be brighter if your nights were spent with some girl Yeah, you're falling all around. Yeah, you're crashing upside down. Oh, oh, and you know you're going down For the last time …” Lou Reed || Going Down E o sonho avançava. Apenas avançava. A noite tinha apenas começado. … - Ei mocinha. Mocinha? Me ouve? Ela chacoalhou os cabelos castanhos desgrenhados, um monte de nós sem sentido, apenas ela, virou o rosto confuso e encarou aquele sujeito grande, intimidador, com cara de bravo e que estava imóvel à sua frente, um verdadeiro brusco naquele cenário. - Então, me ouve? Está me ouvindo? - aquele grandalhão insistiu - Me ouve, porra? - disse, de modo grosseiro. Ela olhou com um tanto de medo e sem saber exatamente o que fazer, o que dizer, o que mexer, o que responder, nada disse. Apenas, nada disse. - Você entende? É surd...

NOSSO SUOR SE MISTUROU DEMAIS...

- Nosso suor, se misturou demais ... – ela cantarolou baixinho. Bem baixinho, emitindo sinais, mas não de propósito. Ele ouviu e respondeu de pronto – Música antiga, hein? Está ficando saudosa ou velha mesmo? – perguntou grosso, tosco, otário, como sempre fez, sem desviar os olhos do seu jornal. Ela apenas sorriu. Sabia que ele não era assim. Ele apenas se fazia – e gostava muito disso - de filho da puta. - Canção antiga. Vintage total. Vintage total. Mas vintage tá na moda , não é mesmo? – ele emendou – Veja o bando de velhos ouvindo discos de vinil por aí. - Você é um babaca – ela respondeu. Ele apenas sorriu. Tinha certeza disso. - Nosso suor, se misturou demais ... – ela cantarolou novamente. Desta vez não tão baixinho, não tão tímida. Não tão baixinho, nem um pouco tímida. Forte. Segura. Decidida. Sabia o queira, mas não achava o alvo. - Também acho – ele concordou, fechando o jornal com média força e suspirando forte – E não sei exatamente o que fazer. D...