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Mostrando postagens de maio, 2003
COMO SE APENAS A BOA SORTE PUDESSE AJUDAR Ela entrou no seu quarto escuro. Não acendeu as luzes. De modo algum. Preferiu acender apenas uma vela de cor barbante ao invés de ligar a luz. Ao menos era possível enxergar o que precisava. Na verdade, não precisava nem enxergar muito. Já havia deixado tudo preparado. Tudo. Era só pegar as roupas que gostava mais, os seus cigarros, alguns poucos livros e um ou dois discos que gostava mais. Não precisava mais do isso. Não sabia se o lugar para onde estava indo podia acomodar muito mais do que isso. Seu corpo não parava de coçar. As feridas estavam irritando. Em poucos minutos ela arrumou tudo. Colocou sua pequena mochila em cima da cama e pôs-se a observar o seu quarto. Uma última contemplação. Seus olhos foram e voltaram e quando ela deu-se conta, estavam cheios de lágrimas. Mas não eram apenas lágrimas de alívio. Eram lágrimas de dor, de ódio, de revolta, de saco cheio, de arrependimento por não ter tomado qualquer atitude antes. Por
RECONQUISTA Talvez esteja tudo sob controle – ele pensou, tenso, enquanto tomava um gole de vodka - Mas talvez não. Talvez eu tenha me atrapalhado, me precipitado, feito um julgamento totalmente errado do que eu era ou não capaz de fazer – continuou, enquanto andava pela sala, em círculos, segurando o copo de vodka – Caralho, será que ninguém pode explicar como agir, como fazer as coisas direitas, ao menos uma vez nessa droga de vida. Será que eu nunca vou acertar uma? Uma só? – ele prosseguiu, quase chegando ao desespero. Até que o interfone tocou. Ele correu para a cozinha e atendeu rápido, quase gritando e ofegante: – Quem é? - Oi Sr. Marcelo. Correndo? – perguntou o porteiro, velho conhecido dele. - Quem é? - A Dona Vanessa. Ela pode subir? - Pode. Claro. - Ótimo. Assim que desligou o interfone, ele deixou de lado o copo de vodka. Correu em direção ao espelho para dar uma última ajeitada nos poucos cabelos. Respirou fundo e pensou, com esperança e com os olhos q
ENTRE SORRISOS E ENGANOS E NEW ORDER - Não acredito – ela disse, toda feliz, apontando seu dedo, gracioso, em sua direção. - Pára Anne. Qual o problema? – respondeu, quase-bravo, Edu. - Você está feliz. Você está sorrindo. Não acredito – ela disse, provocativa. - Pirou de vez? Eu não posso sorrir? É crime agora, nessa porra de país, estar feliz? – ele disse, agora já todo-bravo. - Não querido – ela brincou – É óbvio que não é crime sorrir e ser feliz e o caralho, mas é que você parece fazer questão de evitar todas essas coisas boas da vida. Você parece ter uma obsessão mórbida pela tragédia, pelo drama, pelo choro, pelo sofrimento, por tudo o que não vale a pena. Assim, eu fico feliz para caramba ao pegar você, todo desarmado, rindo. E rindo sozinho, sabe Deus por qual motivo. - Eu não estava sorrindo porra. Que saco essa sua mania de querer adivinhar as coisas. - Hey, comporte-se rapaz. Que vocabulário é esse? – disse Anne, fingindo rigidez. - Desculpe Anne. Desculpe. M
MEDO DE NÃO SENTIR MEDO - Você já sentiu medo, Olívia? – perguntou Clarisse à amiga. Olívia a olhou surpresa e respondeu – Medo? Como assim? Não entendi. - Medo Olívia, medo. Apenas medo. Você anda tão feliz, aliás, faz tanto tempo que não te vejo tão alegre. Você não tem medo por estar assim? - Medo por estar feliz? – Olívia perguntou. - Exato. Medo por estar feliz, medo de perder o que se tem, medo de chorar, medo do escuro, medo, enfim. Apenas medo. Olívia abraçou Clarisse com carinho e disse, tranqüila - Eu já senti muito medo Çice, você sabe disso. Já senti mais medo do que qualquer pessoa jamais poderia ter sentido. Quantas vezes eu já não chorei no seu ombro por conta disso? - Então... e agora esse medo passou? - Não. Ele nunca passa. Apenas aprendi a esquecer que ele existe. E com você por perto isso fica fácil, muito mais fácil. Clarisse apenas sorriu e respondeu, feliz - Que lua linda não? - Sempre é Clarisse, sempre é... - e sorriu...
QUANDO A LÁGRIMA ENSURDECE A ALMA Ele estava ansioso. Mal podia esperar para o espetáculo começar. Havia poucas pessoas na platéia, mas isso não o incomodava. Não, definitivamente isso não o incomodava. Pessoas de sorte – pensou, rindo da própria arrogância. Ele havia ensaiado muito para aquele momento. O seu grande momento. Sabia que não iria cometer qualquer engano, qualquer erro. Estava seguro e confiante de que tudo correria bem. E, na hora marcada, a cortina subiu e as parcas pessoas começaram a aplaudir. Ele fez um gesto gentil com a cabeça, andou através do tablado de madeira ruidosa daquele palco e sentou-se em frente ao seu piano. Respirou fundo e começou a tocar. Nota por nota, tecla por tecla, acorde por acorde. Enquanto tocava, sua vida começou a ziguezaguear em flashback por sua mente. Estava tão seguro da sua música, do som que extraía daquele lindo piano de cauda, que podia se dar ao luxo de pensar. De pensar no seu passado. De pensar na sua vida. De pensar nos s
IF YOU ARE LONELY YOU CAN TALK TO ME - Tudo bem? – ela disse logo após ter percebido o seu “alô” fraco, triste e preocupante ao telefone. Após breves momentos de silêncio, ele respondeu - Não deveria estar tudo bem? Não entendo a sua pergunta. Ela respirou profundamente e disse, com a voz ligeira, com a voz irritada, com a voz mais protetora do mundo – Porra João, mas você é um filho da puta, sabia? Um idiota. Pára de achar que o mundo conspira contra você e que tudo o que você merece é pena das pessoas. Eu jamais vou te dar toda essa atenção que você quer. Ainda não esqueceu aquela vaca? - Não me recordo em que parte você entra na história, ou melhor, não sei o que você tem a ver com tudo isso – ele disse, nervoso. - Eu tenho a ver com isso porque sou sua amiga, porra – ela gritou – Eu tenho a ver com isso porque ainda penso em você e ainda me importo com você, mesmo você fazendo a maior questão de ignorar tudo isso. Quando você vai crescer e perceber que o mundo, definit
BANG...(YOU ARE DEAD...) Pareceu como um estampido de uma arma de fogo. Seco, curto, rápido, porém mortal e dolorido, extremamente dolorido. Ela não percebeu o que estava acontecendo, até se dar conta de que o alvo havia sido ela. Sentiu o sangue fluindo com uma velocidade extraordinária dentro das suas veias, das suas artérias, do seu corpo. Sentiu que talvez não houvesse nada mais a fazer. Nada. E ela não queria chorar. De novo não...mas talvez não houvesse outra alternativa. Ela tinha tomado toda a porrada em cheio. E ele precisou de apenas poucas palavras para matá-la de novo, para matá-la ainda mais uma vez..." Não te amo mais. Esquece. Não há como ficarmos juntos. Não há...lamento... ". ...pareceu como um estampido de uma arma de fogo. E ela era o alvo...ela era o alvo...
Ontem eu assisti (mais uma vez) ao filme Pontes de Madison...lindo filme. O que é de matar é imaginar quantas mulheres como Francesca existem ou existiram por aí...
BALÕES COLORIDOS. APENAS BALÕES COLORIDOS... - Balões coloridos? Adoro balões coloridos – uma voz masculina disse atrás dela, enquanto ela esperava para entrar no Clube Varsóvia. Ela virou-se, de imediato, apenas para saciar a sua curiosidade e saber quem tinha dito aquilo a ela. Espantou-se por ele ser tão bonito. Parecia uma espécie de rock star adoravelmente decadente, vestindo uma calça jeans suja e desgastada e uma camiseta idem. Mas era bonito ainda assim. Ela o olhou por alguns segundos e decidiu responder. - Que bom que gosta. Minha mãe costuma dizer que eu tenho ótimo gosto – disse, irônica. Ele sorriu e retrucou – Tem mesmo. Pode apostar. Festa especial hoje, né? - Você conhece a Carlinha? – ela perguntou. - Não. Eu freqüento sempre aqui e sabia que ia rolar uma festa bacana hoje. - É. A Festa dos Balões Coloridos. Aniversário de uma amiga e ela bolou o tema. O pessoal do Clube topou a idéia e lá vamos nós. Todos carregando pencas de balões coloridos. E lá dentro
Por Favor, Use os Headphones "Save Me" (Aimee Mann) - Então? – ele perguntou, enquanto parava o seu carro bem em frente ao apartamento dela. - Chegamos, né? – ela disse, com um ligeiro sorriso. - É, chegamos. Fico feliz por você. Não há nada mais agradável do que mergulhar embaixo das cobertas quentes, nesse frio de rachar que está fazendo. Veja os vidros do carro. Estão completamente embaçados. - Tem razão – ela respondeu – Realmente está um frio de matar. E esses vidros embaçados dão uma falsa pista do que estamos fazendo aqui dentro desse carro, não acha? Ele sorriu da brincadeira e disse – É mesmo. O porteiro vai pensar em toda a sorte de delírios eróticos. Com essa violência toda que assola o mundo, somente um carro com duas pessoas absolutamente sedentas por sexo dentro dele, poderia estar estacionado na rua, às quatro e meia da manhã, com os vidros absolutamente embaçados. Ela olhou para ele, carinhosa, e disse – Não vou te convidar para subir, tá? - Tu
LEMBRANÇAS DE CAPUCCINOS E NUVENS CINZAS - Anne? Anne? Não acredito! – Pedro gritou a uma moça alta e loira, com quem acabara de cruzar na rua e que andava rápida, tentando lutar contra a chuva com um simples e pequeno guarda chuva cor de café. Ela olhou para trás em direção àquela voz e o observou, distante, dizendo após alguns segundos sem disfarçar a surpresa – Pedro? Você? Ele fez um sinal carinhoso com a cabeça e disse com um sorriso, aproximando-se – Exato Anne. Pedro. Que bom que lembrou – disse, abraçando-a suavemente debaixo do guarda chuva cor de café. Mesmo surpresa, ela disse, terna - É claro que eu lembro. É claro. Como poderia esquecer? - Tudo bem com você? – ele perguntou. - Tudo ótimo. Tudo ótimo. Levando a vida e walking on the normal side como NÃO diria Lou Reed – respondeu sorrindo da própria brincadeira. Ele sorriu e propôs - Escuta, se você tiver uns minutinhos, eu adoraria tomar um capuccino aqui na esquina. Prometo que será rápido. Essa chuva está d
FAST FOOD - FAST LOVE - Você é completamente louca – Ana afirmou, com um sorriso, enquanto observava Paola comer um gigante sanduíche de queijo. Paola a olhou intrigada e após engolir uma mordida, respondeu - Oras. Não sei o motivo. Você vê algum problema nos nossos planos. Quero dizer, nos planos que fiz para nós? - Sinceramente? – Ana perguntou - Óbvio. Com toda a sinceridade do universo. - Talvez seja meio precipitado vendermos o seu carro e todas as pequenas bugigangas e tralhas e tranqueiras que temos por aqui para juntarmos toda a nossa esparsa grana, trocarmos por libras e irmos morar fora daqui, na cinzenta e úmida e fria, porém muito legal, cidade de Londres. - Você não sabe lavar pratos? - Sei - Você não gosta de frio? - Gosto. - Você se incomoda de ralar para conseguir o que quer? - Não. - Você gosta de Londres? - Possivelmente sim. - Então? Não sei por que me chama de louca. Vai ser ótimo, você vai ver. Confia em mim, babe. Uma única vez. - Tá e o seu