Pular para o conteúdo principal

ENCANTADORES OLHOS AZUIS SEMPRE SERÃO ENCANTADORES OLHOS AZUIS


- Sofia? – ele perguntou tímido, um tanto surpreso, um tanto assustado diante daquela mulher a sua frente na fila do Café no Aeroporto Internacional.
Ela virou a cabeça, balançando os seus lindos cabelos negros e o encarou com seus (sempre) encantadores olhos azuis – Beto? – disse, um tanto surpresa, um tanto constrangida.
Ele sorriu sem graça.
Ela retribuiu.
- O que faz por aqui? – ela perguntou, percebendo, imediatamente, a idiotice da pergunta.
- Bem Sofia – ele respondeu com um sorriso – Estamos nós dois em um aeroporto, certo? Então, ou eu estou indo viajar ou eu estou aqui para buscar alguém – emendou, com um sorriso.
Ela achou graça da resposta e sorriu, sem graça – Desculpe – disse – Foi uma pergunta idiota.
Ele sorriu e afirmou – Não, nada disso. Está tudo certo. Você está indo viajar? – perguntou.
- Sim. Estou. Cansei desta cidade, Beto. Cansei de uma série de coisas. Recebi uma proposta legal e vou mudar toda a minha vida. Toda. Vou me mudar e ver o que o futuro me diz.
Ele encarou aqueles encantadores olhos azuis e disse, sereno e simpático -  Você vai ser feliz. Tenho certeza disso.  
- Espero que você esteja certo Beto. Espero mesmo.
- Você vai deixar muita coisa por aqui? Desculpe perguntar – ele emendou.
Ela tentou esboçar um sorriso e não conseguiu. Apenas respondeu – Vou sim. Vou deixar um passado. Vou deixar um enorme e maravilhoso passado.
Ele concordou com a cabeça e perguntou, indiscreto e inoportuno, porém decidido – Passado? E eu? Faço parte dele?
Ela olhou para ele, com os seus gigantes e deliciosos olhos azuis e apenas suspirou. Nada disse.
- Faço? – ele insistiu – Eu poderia fazer mais do que isso. Você sabe. Poderia fazer parte do futuro.
- Claro que faz do passado – ela frisou - Claro que faz. Você sabe disso. Você sempre soube disso – ela completou.
- Não sei. Você sempre fugiu de mim. Sempre. Como Alice quando despenca no buraco do coelho, apenas para desabar no País das Maravilhas. E eu? Não passo apenas de um Chapeleiro Maluco. Um bobo. Fico conformado com meu passado sem saber ao certo do meu futuro.
Ela abaixou a cabeça e disse - Estou atrasada Beto. Preciso ir. Preciso ir mesmo. Quem sabe nos vemos por aí qualquer dia destes, não?
- Quem sabe – ele respondeu – Quem sabe. Apesar de eu não ter mais seu telefone, seu email, seu endereço ou mesmo o destino da sua nova vida.
- Bom, então é isto. A gente se vê – ela respondeu seca, desistindo, inclusive, do café.
- Sim. No vemos por aí.
Ela, então, foi segura e sem se despedir em direção ao balcão da companhia aérea. No entanto, segundos depois ela se virou bruscamente e o viu, ainda, olhando para ela de um modo terno e adorável. Apenas perguntou, quase gritando no saguão do aeroportp - Hey, você não me disse. Veio buscar alguém ou vai viajar?
Ele sorriu com a inveitável pergunta e apenas respondeu – Não importa. Dei sorte. Encontrei minhas memórias, meu passado e meu destino. O resto não importa. Boa viagem, querida.
Ela acenou com a mão em sua direção a lançou um beijo no ar antes de se virar rápida. Queria, imediatamente, esconder o que sentia e as lágrimas gordas e sinceras que começaram a escorrer daqueles adoráveis e gigantes olhos azuis.
Ele apenas permaneceu lá no balcão do Café, triste, observando ela partir.
Observando ela partir para todo o sempre...
Ele tinha certeza disso.







Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

ODEIE-ME DOMINATRIX Alguém já viu olhos verdes tão gordos e lindos? Ela era fatal. Uma inebriante Femme Fatale como a canção de Lou Reed e seu underground de veludo. Absolutamente fatal. Fatal e forte e firme e segura e decidida e atrevida e ousada e centrada e todos os demais adjetivos utilizados sem vírgula entre eles. Adjetivos verdeiramente adjetivos. E exatos. Ela era fatal e simplesmente o ignorava. Culpa dele? Claro que sim. Idiota ao extremo, não percebeu que, na verdade, além dos saltos agulha e do corselet preto e do chicote prateado, havia uma garota de olhos gordos e verdes com medo. Insegura e menina demais. Insegura e menina demais para ser deixada de lado. Ele não percebeu. Só isso. Pobre idiota, covarde e medroso. Azar o dele. Agora é tarde para arrependimentos e desculpas. Agora é tarde demais. E nos guardanapos de papel escritos à mão por ele em madrugadas frias e úmidas e bêbadas, repousava a sua culpa e o seu desejo. Não me ignore. Odeie-me dominatrix. E apenas os t

VOYEUR DE TRENS TRISTES

Ela não tinha carro. Definitivamente não. Nada. Carro nenhum. Nada. Ela não tinha carro e dependia apenas das suas próprias pernas para andar. Apenas dela e das suas longas pernas. Só transporte público. E ruim. Péssimo transporte público. Ela dependia dele e andava em trem, ônibus, táxi, bicicleta, a pé, de um lado para outro por toda a cidade. De um lado para outro. Por toda a cidade. E nas suas viagens loucas , longas e insuportáveis, ao invés de ficar como uma idiota no fone de ouvido e num celular vagabundo ela apenas observava. A tudo e a todas as situações. Observava a tudo e a todos com a maior esperteza, com a maior atenção. Esperta. Nada de malditos fones de ouvidos brancos e joguinhos sem graça. Nada de música ruim nos headphones. Nada de música ruim. Nunca. Nem jogos idiotas. Ela gostava de observar. E era boa nisso. Muito. Ela parecia boba. Mas não era. Longe disso. Muito longe disso. Boba nunca. Nunca. Ela era muito, muito,

Going Down

leia e ouça: lou reed || going down “... Time's not what it seems. It just seems longer, when you're lonely in this world. Everything, it seems, Would be brighter if your nights were spent with some girl Yeah, you're falling all around. Yeah, you're crashing upside down. Oh, oh, and you know you're going down For the last time …” Lou Reed || Going Down E o sonho avançava. Apenas avançava. A noite tinha apenas começado. … - Ei mocinha. Mocinha? Me ouve? Ela chacoalhou os cabelos castanhos desgrenhados, um monte de nós sem sentido, apenas ela, virou o rosto confuso e encarou aquele sujeito grande, intimidador, com cara de bravo e que estava imóvel à sua frente, um verdadeiro brusco naquele cenário. - Então, me ouve? Está me ouvindo? - aquele grandalhão insistiu - Me ouve, porra? - disse, de modo grosseiro. Ela olhou com um tanto de medo e sem saber exatamente o que fazer, o que dizer, o que mexer, o que responder, nada disse. Apenas, nada disse. - Você entende? É surd

SONHOS DE UMA MADRUGADA MOLHADA DE VERÃO

- Sonha comigo? – ele pediu quase tolo, quase infantil. - O quê? – ela respondeu – Pirou? O calor derreteu o pouco que resta do seu cérebro pequeno? – disse irônica. - Sonha comigo? Sonha? – ele pediu. - Como assim “sonha comigo”? Você acha que eu escolho os devaneios que tenho durante a madrugada? Acha que consigo selecionar com o que vou sonhar? – ironizou. - Talvez. Se você quiser muito, pode até conseguir. Quem sabe? Ela sorriu e fez um carinho fofo em seus cabelos curtos. Admirou seus olhos verdes e apenas sorriu. - Por favor? – ele insistiu – Você me disse que sonhou comigo outra noite. Porra, quem sabe consegue repetir a façanha. Vou ficar muito feliz. Muito mesmo. - Você é um idiota de verdade – ela disse com carinho. - Mas não basta sonhar. Tem que me contar os detalhes depois – ele afirmou como um babaca apaixonado. - Vou tentar. Prometo que vou tentar. Antes de tomar o meu Lexotan e dormir como um anjo, vou mentalizar muito para ter um sonho cont
COMO UMA CANÇÃO DE LAURYN HILL Então, ela se pergunta, o que aconteceu com todos aqueles momentos? Alguém pode explicar? Alguém pode explicar para essa menina doce, gentil e bem humorada, de que serviu todo aquele amor, aquele desespero, aquela vontade insana e adolescente de querer ficar junto, de querer estar junto, de querer comer junto, viver junto, enfim, morrer junto? Aquele desejo doentio e saudável de viver duas únicas vidas em uma só? Alguém pode explicar essa porra? Porquê, até onde eu sei, não existe um manual de instruções de como proceder em caso de falência múltipla de sentimentos. Não, meu caros amigos, definitivamente não há um manual de instruções que possa ajudar-nos a entender todas as razões sem razão, todos os desejos sem recíproca, todas as cores do universo. Não, mas nem fodendo. As brigas, os momentos de raiva, o medo, desespero, a vontade de fugir, enfim, todos os desequilíbrios da mente não vem com um pequenino, um simples, um maldito manual de instruções. E e