Pular para o conteúdo principal
A BALA AMARELA NO SACO DE JUJUBA

- O mar está tão frio hoje - ela disparou, com os lábios ardendo por vodka.
- Que mar? - ele perguntou, supreso.
- O mar, oras. Qual mar? - ela respondeu irônica - O único que existe. O mar. Ele está muito frio hoje.
- Ótimo. Ele pode estar frio, gelado, congelante, mas ainda bem que está longe de nós. Estamos no Clube Varsóvia. Percebe?
- Você não tem o menor senso de realidade, sabia? Infelizmente. Este é o seu maior problema. Podemos estar no mar, no Varsóvia, na cidade, no campo, em algum inferninho cheio de putas e vagabundas e traficantes, ou mesmo nos alpes suíços. It´s up to us. Depende da sua imaginação. Da nossa imaginação.
- E do grau etìlico e da quantidade de drogas que foi consumida hoje também, não? De qualquer forma, por que o mar está frio?
- Você já viu o céu? Cara, é sábado a tarde e olha lá. Apenas nuvens cinzas, carregadas de inverno. Óbvio que o mar está frio. As lágrimas dos deuses não são quentes. Com toda a certeza.
- Ah, as lágrimas dos deuses agora. Tem razão. Então porque é inverno neste hemisfério, o mar está frio seja aonde for. E pior, porque os deuses choram lá do céu, e suas lágrimas são geladas como dor, toda a água do planeta congelou. Você é ótima, sabia?
- Claro que sei. Sou genial.
- E louca.
- E normal.
- Porém inconstante.
- Sim, e também triste.
- Isto é por sua conta.
- Desconfiada.
- Muito.
- Atraente.
- Pelo menos para mim.
- Interessante.
- Divertida.
- Sonhadora.
- Sonhadora.
- Uma ótima companhia?
- Claro que não.
- Não esquece que sou violenta.
- Eu sei.
- E vingativa.
- Demais.
- Odiosa.
- Nada disso.
- Muito lunática?
- E muito bonita.
- Isso é por sua conta.
- Ainda bem.
- Adoro você, saca?
- Eu também. Saca?
- De qualquer forma, o mar está frio e eu sinto todo este frio cortar minha espinha.
- Coloca um casaco.
- Não adianta.
- Como não?
- Nua. Me sinto nua como esta canção que está atormentando meus ouvidos. E toda a cidade sabe o motivo.
- Qual?
- Olha ele lá. Conversando com ela.
- Filho da puta.
- Bastardo.
- Sou mais você.
- Eu também, mas queria que ele também fosse. Totalmente ligado em mim.
- Não gosto dos olhos dele.
- Por que?
- São frios.
- Como o mar?
- Exato. Dali não sai lágrimas. E como dizia minha avó: "nunca confie em olhos incapazes de chorar".
- Ótima frase.
- Ela nasceu numa cidade próxima ao mar.
- Mar frio?
- Gelado.
- Sabe de uma coisa?
- O quê?
- O pior de tudo?
- Não, diz.
- O mais grave desta porra toda de vida que está desmoronando sob meus pés e coração?
- Fala, vai.
- Eu nunca como a bala amarela do saco de jujuba, sabia? Nunca...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
APENAS RELÂMPAGOS... O beijo que você me deu sob o sol A chuva molhando os campos de maçã (Sob o Sol - Vibrosensores) Lembro que choveu MUITO naquela tarde. Muito mesmo. Mais do seria normal em qualquer outro dia, em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Tudo estava bem, mas o céu, como puro capricho, decidiu se rebelar. O céu, assim de repente, tornou-se cinza. Absurdamente cinza. Cinza chumbo, quase noite. E choveu muito mesmo naquela tarde. Como jamais eu pensei que poderia chover em qualquer outro dia normal. Em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Lembro-me que eu estava no parque central, quieto, pensando nas verdades que eu havia ouvido e arquitetando uma fuga mirabolante do viciado e repetitivo labirinto caótico que a minha vida havia se transformado. Lembro-me que não estava sol, nem tampouco abafado, e que, portanto, não havia tantas nuvens no céu capazes de provocar aquela tempestade. Não mesmo. Mas, ainda assim tudo aconteceu. Não me dei conta, e,