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QUANTAS PORRADAS ATÉ VOCÊ ENTENDER?


- Você espera isso mesmo? - ela perguntou, toda sorrisos.
Ele a olhou de uma forma engraçada, quase humorística, apaixonada - Claro. Você não?
Ela acendeu mais um cigarro e pediu ao garçom do Clube Varsóvia que servisse outro Mojito - Adoro esta canção - respondeu, apontando para o DJ do Varsóvia, solitário e em transe na sua cabine.
Ele riu alto, pouco surpreso com a resposta.
- Rindo? Pareço ser engraçada? - ela emendou.
- Parece não, querida, você É engraçada - ele disparou - Engraçada prá caralho.
- Não sei porquê.
- Porque sim. É hilário ver como você foge e como você dribla e como você evita uma das coisas mais inevitáveis da vida.
- Pff... lá vem. Nem precisa me dizer o que é esta "coisa" tão inevitável. Poupe fôlego.
- Não? - ele perguntou, atiçando.
- Não - ela concluiu, enquanto o garçom servia o seu terceiro Mojito naquela noite.
- Tem certeza que sabe tanto assim?
- Querido, eu tenho certeza do que você vai dizer. Vai dizer aquelas besteiras e mentiras que o amor é lindo, o amor é belo, o amor é vida, o amor constrói, o amor o cacete. Nem vem. O que é inevitável mesmo é a frustração, o desespero, o medo, o fracasso, enfim, tudo o que se refere a fracassos amorosos. Não espere nada diferente de pessoas como eu. Especialistas em desilusão e afins.
- Mas eu não espero nada diferente de você.
- Não? - ela perguntou, surpresa.
- Não - ele disse, tranquilo.
- Então, que porra você está dizendo?
- Estou dizendo que você vai se comportar como todas as vezes. Como todas as malditas outras vezes que deu sorte de encontrar alguém. Vai ser tola, infantil, boba, otária, dramática, desesperada, neurótica, medrosa, enfim, vai ser apenas você mesmo.
Ela olhou furiosa para ele, como querendo esmurrá-lo por dizer tantas verdades em uma única maldita frase - A vida é minha. Por que você não vai se foder? - disparou.
Ele a ignorou e prosseguiu, insolente - O que eu espero é dele. Apenas dele. Tudo o que eu espero é que ele consiga te fazer enxergar. Que ele consiga que você seja, uma única vez, capaz de dar alguma chance para alguém que parece realmente gostar de você. Uma única maldita chance para uma única maldita pessoa. Uma única maldita vez.
Ela apenas escutava.
- Você parece sempre querer sofrer. Sempre querer estar no spot do drama. Uma patética estrela do drama. E o que eu espero é que ele consiga fazer você mudar este foco. Quer ser dramática? Louca? Insana? Então seja. Mas, por uma única vez, seja dramática por algo que valha a pena. Seja dramática por amor, por paixão, por tesão, por emoção, por vida.
Ela apenas escutava, brincando com seu celular.
- É óbvio que isto tudo é conversa de botequim. Conversa lugar-comum, conversa clichê. Mas, querida, amar é clichê. E, cá para nós, um clichê muito mais bonito do que o batidíssimo clichê das "mal-amadas". Por que caralhos você não pode ser feliz uma única vez?
Ela acendeu outro Marlboro.
- É apenas isso o que eu espero. Que ELE consiga ser feliz e, quem sabe, leve você junto com ele neste mundo tão desconhecido.
Ela olhou para ele com os olhos borrados, cheios de lágrimas e apertou suas mãos com força.
- Vou indo - ele disse, dando um abraço e um beijo forte nela.

Ela ficou ali, apenas vendo seu amigo desaparecer entre o agito do Varsóvia.

Ao olhar o seu copo quase vazio de Mojito, percebeu um guardanapo amassado, com um número de telefone e uma frase: "Liga prá ele. Seja feliz. Uma única vez em toda a sua vida. Te amo.".

Ela sorriu e chorou ao mesmo tempo, enquanto pedia ao garçom mais uma bebida.

E dali até o final da noite, ninguém mais entendeu o que uma garota tão bonita fazia, ao celular, enquanto todos se divertiam no meio de um clube noturno...

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NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
APENAS RELÂMPAGOS... O beijo que você me deu sob o sol A chuva molhando os campos de maçã (Sob o Sol - Vibrosensores) Lembro que choveu MUITO naquela tarde. Muito mesmo. Mais do seria normal em qualquer outro dia, em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Tudo estava bem, mas o céu, como puro capricho, decidiu se rebelar. O céu, assim de repente, tornou-se cinza. Absurdamente cinza. Cinza chumbo, quase noite. E choveu muito mesmo naquela tarde. Como jamais eu pensei que poderia chover em qualquer outro dia normal. Em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Lembro-me que eu estava no parque central, quieto, pensando nas verdades que eu havia ouvido e arquitetando uma fuga mirabolante do viciado e repetitivo labirinto caótico que a minha vida havia se transformado. Lembro-me que não estava sol, nem tampouco abafado, e que, portanto, não havia tantas nuvens no céu capazes de provocar aquela tempestade. Não mesmo. Mas, ainda assim tudo aconteceu. Não me dei conta, e,