Pular para o conteúdo principal

WITH A LITTLE HELP FROM MY FRIENDS


Hoje em dia, todos os meus amigos me detestam.

Todos.

Simplesmente todos.

Hoje em dia eu tenho certeza disso. E, na verdade, são amigos porque eu ainda assim os considero. Unilateral e solitariamente, ainda assim eu os considero. Mas, triste, eu sei que apenas eu ainda os considero. No meu pequeno e inchado coração, eles ainda são meus amigos. Recuso a aceitar o oposto. Recuso a reconhecer o contrário.

Simplesmente recuso.

E o que eu fiz de tão grave?

Tudo. Simplesmente tudo.

Cometi os piores erros que se pode cometer.

Menti, fraudei, trapaceei, não fui sincero, errei, não acertei, quis, não quis, fugi, corri, zombei, deixei na mão, enfim, fiz tudo aquilo que não se deve fazer com amigos. Nunca. Nunca, nunca e nunca. E, desta forma, por óbvio que todos, mas todos os meus amigos hoje me detestam.

Amigos reais, virtuais, imaginários, inimigos, enfim, todos e todos e todos. De todos os tipos, cores, formatos, sexos e maneiras. Cometi toda sorte de crime que se possa imaginar. Cometi todo tipo de erro que se pode imaginar. Fiz tantas besteiras que não existem estrelas capazes de representar.

Exagero? De certa forma.

Realidade? Com toda a certeza.

E, na verdade, errei aqui e acolá porque quis demais e fiz de menos. A noite nunca ajudou. A minha vida nunca ajudou. Porque confusão e erros se misturam. E a noite, ah, a noite é implacável com quem erra. Implacável. A noite não perdoa vagabundos que excedem os limites, canalhas que extrapolam, idiotas que fogem, covardes que se escondem, imbecis que erram.

Alines, Alices, Gláucias, Elisas, Marias, Gustavos, Pedros, enfim, todos os meus amigos sabem disso. Todos eles sabem disso. E, portanto, não é de se admirar que todos me detestem. Hoje e por muito tempo a contar de hoje.

- Amigos? – ele perguntou, ansioso.
- Não – ela respondeu, direta.

O silêncio invadiu todos os espaços da sala. Todos os espaços.

Ele virou e saiu. E não disse nada até sair, com as lágrimas escondidas.

A palavra mais cruel e sincera desde sempre: Não.

Apenas isso: NÃO.

- Medo? – ela perguntou.
- Sim. Medo. Muito medo – ele respondeu.
- Mas, medo do quê, exatamente? – ela insistiu.

Ele ficou em silêncio e nada respondeu. Nada respondeu.

Como uma criança psicodélica, achou engraçado por alguns instantes ter o poder de voltar no tempo.

O doce e dolorido poder de voltar no tempo.

E aprender a não errar...

Aprender a não errar...

Comentários

carol disse…
como já é clichê, 'cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...'
beijos
Anônimo disse…
depois de tantos anos este blog continua ímpar..
-Helô Helê- disse…
Quem foi que disse que errar é errado???

Errar é a nova oportunidade que ganhamos para tentar de novo, recomeçar, reconquistar.

Sabe, Guzi (ô, saudade-monster desse canto aqui), eu já remoí muitas vezes se pequei feio com alguns amigos que do nada simplesmente se afastaram de mim(não digo odiar, pois isso é forte demais e acredito que não seja isso que aconteceu). Com o tempo percebi que talvez as coisas têm de ser assim mesmo. Precisamos abrir espaço em nossa vida para o novo. E até mesmo o velho, renovado. Alguns amigos voltam depois de um tempo. Outros, de alguma forma, passam a viver em um mundo tão diverso do nosso que nada mais faz sentido, nem a amizade. E assim a vida segue.
De repente, o que se chama de ódio seja apenas mágoa ou ressentimento de algo mal resolvido. Eu tenho um monstrinho desses em mim e um dia sei que terei a oportunidade de libertá-lo. Mas até lá, deixo-o quietinho para que não atrapalhe tudo de bom que vem por aí.

Beijucas estaladas e vá lá preparar um drink pra nós! =c)
Lorene disse…
Muito forte. E no final de tudo você foi sincero.
kada disse…
eu perdi um amigo que não era amigo, ele era um idiota.... =\

Postagens mais visitadas deste blog

PASSE-ME O SAL PARA EU BOTAR NA SOBREMESA?

- Não há nada a desculpar – ele disse pouco tranquilo, muito mentiroso, entre os copos de vodka, as mesas e o barulho do Clube Varsóvia, tentando desviar do olhar adorável, inesquecível e maravilhoso daquela garota à sua frente. Ele a amava. Ela o olhou com ternura e amizade e fez um carinho breve e gentil no seu cabelo. Por instantes, breves instantes, ela lembrou de todo o afeto e paixão que sentiu por ele no passado. Todo o carinho, o afeto e o amor que sentiu por ele em um passado não tão distante. Como foram felizes. - Fica tranquila – ele disse e continuou - Nada a desculpar mesmo. Tudo em ordem do meu lado – ele prosseguiu – Você gosta de MPB mesmo. Eu detesto – completou, com um sorriso. - Você mente mal. Muito mal mesmo sabia? Quase um canastrão – ela brincou e continuou – Esqueceu que te conheço há um tempinho? - Muito tempo? – ele perguntou, tentando disfarçar, enquanto acendia um Marlboro – Dentre as mentiras da vida, duas nos revelam mais – recitou, citando a antiga c...

TEMPESTADES DE NATAL

Ela acordou de repente, com um grito. Era madrugada e ela acordou absolutamente assustada. Estava suada e sua cama completamente encharcada. Suor frio. O pesadelo havia sido insano. Era preciso ter nervos de aço para dormir naqueles dias. Nervos de aço. E ela levantou da cama tremendo. Foi direto para a cozinha, se é que há diferença entre o quarto e a cozinha naquela porra de apartamento em que ela morava. Ou se escondia? Ao lado do filtro de água pegou um copo americano. Abriu o armário e encheu de conhaque. Não conhaque dos bons, claro. Ela não tinha grana para este tipo de luxo. O máximo que ela conseguia comprar era algum destilado vagabundo, sempre dos mais baratos. Sempre dos mais escrotos. Seu fígado já nem se importava. Ele estava pouco se fodendo com o líquido, o cérebro queria o efeito. Sentou à mesa e pegou seu maço de cigarros. Os cigarros sim, mais caros do que o usual. Morrer de tédio ou morrer de vodka barata ok, mas se é para morrer de câncer causado por cigarro, que...

Going Down

leia e ouça: lou reed || going down “... Time's not what it seems. It just seems longer, when you're lonely in this world. Everything, it seems, Would be brighter if your nights were spent with some girl Yeah, you're falling all around. Yeah, you're crashing upside down. Oh, oh, and you know you're going down For the last time …” Lou Reed || Going Down E o sonho avançava. Apenas avançava. A noite tinha apenas começado. … - Ei mocinha. Mocinha? Me ouve? Ela chacoalhou os cabelos castanhos desgrenhados, um monte de nós sem sentido, apenas ela, virou o rosto confuso e encarou aquele sujeito grande, intimidador, com cara de bravo e que estava imóvel à sua frente, um verdadeiro brusco naquele cenário. - Então, me ouve? Está me ouvindo? - aquele grandalhão insistiu - Me ouve, porra? - disse, de modo grosseiro. Ela olhou com um tanto de medo e sem saber exatamente o que fazer, o que dizer, o que mexer, o que responder, nada disse. Apenas, nada disse. - Você entende? É surd...

NOSSO SUOR SE MISTUROU DEMAIS...

- Nosso suor, se misturou demais ... – ela cantarolou baixinho. Bem baixinho, emitindo sinais, mas não de propósito. Ele ouviu e respondeu de pronto – Música antiga, hein? Está ficando saudosa ou velha mesmo? – perguntou grosso, tosco, otário, como sempre fez, sem desviar os olhos do seu jornal. Ela apenas sorriu. Sabia que ele não era assim. Ele apenas se fazia – e gostava muito disso - de filho da puta. - Canção antiga. Vintage total. Vintage total. Mas vintage tá na moda , não é mesmo? – ele emendou – Veja o bando de velhos ouvindo discos de vinil por aí. - Você é um babaca – ela respondeu. Ele apenas sorriu. Tinha certeza disso. - Nosso suor, se misturou demais ... – ela cantarolou novamente. Desta vez não tão baixinho, não tão tímida. Não tão baixinho, nem um pouco tímida. Forte. Segura. Decidida. Sabia o queira, mas não achava o alvo. - Também acho – ele concordou, fechando o jornal com média força e suspirando forte – E não sei exatamente o que fazer. D...