OUÇA: jye || a shitty love song
“E o que eu faço porra?” – ele pensou em desespero, atônito e
surpreso ao se dar conta do que ela tinha acabado de presenciar. “Como eu fujo daqui? Como eu fujo da minha
própria sombra?” – continuou em pensamento. Suando demais. Suando muito, porém
muito mais em razão do desespero do que das doses que havia bebido e das danças
que havia dançado.
Não sabia o que fazer.
Definitivamente não sabia o que fazer.
Na verdade não havia o que
fazer.
Não havia.
Simples assim.
O erro já havia sido cometido.
O erro já estava pronto e acabado.
Um delicado e especial presente,
gentilmente embrulhado em papel de seda colorida em rosa e violeta, entregue a
ele por Blodeuwedd, a irresistível deusa
galesa.
Um presente.
Rosa e violeta.
Um presente.
Um erro.
Mais um erro, mais um.
Irremediável?
Talvez.
Inconsequente?
Com certeza.
Típico?
Típico, sim.
Típico dele.
Ela?
Considerando a velocidade em
que ele a viu pelas costas deixando a pista em direção à saída, com certeza a
esta altura ela já havia alcançado a porra do bar em frente ao Clube Varsóvia e
pedido algumas doses daquele conhaque vagabundo que a ridícula grana dela podia
comprar.
Havia luzes no Clube Varsóvia.
Muitas luzes, muito som, muita
gente e ele. Perdido no espaço. Suspenso no tempo e espaço.
E a rosa e a violeta?
Bem, a rosa é vermelha e a violeta
é azul e nada, nada vai mudar isso. Nada.
Ao menos até o sol nascer e as
sombras voltarem para deixa-lo simplesmente sem ter como e nem para onde fugir.
Blodeuwedd. A definição mais direta que
encontrei:
“Blodeuwedd, a Deusa galesa,
foi dada em casamento ao Deus do Sol Llew Llaw Gyffes (Lugh) no solstício
de verão de Lughnassah. Seu nome foi associado à traição porque ela enganou o
marido fazendo-o encarar o complicado caminho para a corte: banhar-se embaixo
de um telhado de sapê num caldeirão na margem de um rio, em pé, com uma perna
tocando um cervo. Então ela o matou com a ajuda do amante”.
Photo by Pasqualantonio Pingue from FreeImages
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