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GARRAFAS E VERDADES (QUASE SEMPRE) NÃO COMBINAM

Nossa, deve ser meu décimo cigarro essa noite – ela pensou enquanto segurava um cigarro apagado entre seus dedos pequenos e frágeis, divertindo-se do próprio estado de perdição. Foda-se. Vamos continuar. Hey Ho Let´s Go – prosseguiu, enquanto girava a garrafa vazia de vodka sobre a mesa suja de metal daquele boteco indecente e esperava para saber quem faria a próxima pergunta.

Bingo. Ela perguntaria.

Pergunta: Você não acha que já deu no saco esse papo de que eu te assusto e você quer viver dentro dos limites de segurança e que nós dois juntos precisamos de um tempo?
Silêncio e breve resposta: Eu te amo, mas não estou tão pronto assim como você acredita.

Babaca – ela pensou – Idiota, babaca, cretino, imbecil, moleque, medroso, inseguro, otário, perdido, canalha. Não vê que isso é conversa mole? Não vê que é apenas desculpa? Clichê de sessão da tarde. Pára com isso – concluiu nervosa, enquanto acendia o tal cigarro que estava apagado.

Nova rodada. Nova sorte. Ela perguntava, de novo.

Pergunta: Você não prefere ser homem e assumir suas vontades?
Novo silêncio, nova breve resposta: Pena que você me veja assim. Pena mesmo.

Que ódio. Seu demente, não percebe que você é tudo na porra da minha vida? Não percebe? Não percebe que quando temos medo de amar, temos medo de viver. E quem vacila, quem teme, quem geme, quem não se assume, quem sufoca, quem apavora, quem só chora, não vive. Perceba isso, idiota.

- Desculpe interromper mocinha, mas já está nascendo o sol, e estamos fechando para dormir umas poucas horas antes de abrir de novo. Não gosto de interromper suas viagens com essa garrafa de vodka, mas lamento, eu tenho que te dar a conta – disse a voz de um homem visivelmente cansado, em pé ao lado dela.

Ela encarou-o - meio bêbada, meio triste - e pediu desculpas. Pagou por toda a rodada de vodka barata e cigarros que havia consumido e saiu do bar sozinha e constrangida, apenas querendo saber a quem ela queria enganar.

Jogo da verdade não se joga sozinho. A menos que você queira se machucar. A menos que você queira muito se machucar... 
  

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NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
APENAS RELÂMPAGOS... O beijo que você me deu sob o sol A chuva molhando os campos de maçã (Sob o Sol - Vibrosensores) Lembro que choveu MUITO naquela tarde. Muito mesmo. Mais do seria normal em qualquer outro dia, em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Tudo estava bem, mas o céu, como puro capricho, decidiu se rebelar. O céu, assim de repente, tornou-se cinza. Absurdamente cinza. Cinza chumbo, quase noite. E choveu muito mesmo naquela tarde. Como jamais eu pensei que poderia chover em qualquer outro dia normal. Em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Lembro-me que eu estava no parque central, quieto, pensando nas verdades que eu havia ouvido e arquitetando uma fuga mirabolante do viciado e repetitivo labirinto caótico que a minha vida havia se transformado. Lembro-me que não estava sol, nem tampouco abafado, e que, portanto, não havia tantas nuvens no céu capazes de provocar aquela tempestade. Não mesmo. Mas, ainda assim tudo aconteceu. Não me dei conta, e,