Pular para o conteúdo principal
PARA ISA

SUPERMAN
(Cinerama)
“But you want something that I just can't provide
I'm not a super hero; I just can't find a cloak and change
That sounds more like a job for Superman
Not the lazy slob that you think I am”


Ela gostava de ficar naquela posição.

Deitada de costas, apenas respirando e olhando para o teto do seu quarto amarelo, cheio de folhas com desenhos espalhadas pelo chão. Desenhos feitos à mão. Desenhos feitos de sonhos. Desenhos feitos de desejos. Desenhos feitos por seus dedos finos e deliciosos, que simplesmente adoravam o cheiro do nanquim e as manchas que a tinta deixava. Manchas. Marcas. Manchas. Marcas. E se sua vida tinha alguma espécie de marca ou de mancha, era apenas as manchas de suas vontades e de suas pirações. E as paredes amarelas transformavam-se em pequenos caleidoscópios multicoloridos, como um esboço de algum quadrinista sessentista, hippie gordo, entupido de substâncias lisérgicas. Um quadrinista velho, barbudo, cheio de rugas e cicatrizes na pele enrugada. E ela via o seu rosto aparecer e desaparecer nas paredes amarelas. Como uma luz neon. Um rosto assustador. Psycho killer total. Palhaço assassino. Antítese do amor. E o que a deixava intrigada era que o tal rosto ora era do quadrinista velho e gordo, ora era do seu passado. E ela ameaçava chorar, como não querendo ver, como querendo que as lágrimas escondessem o cenário. Seu coração palpitava e palpitava e palpitava e ela queria ser a personagem dos seus desenhos. “Mas, minha filha, isso não é real. Estes desenhos são absurdos” - a voz de sua mãe ecoou na memória. E ela sorriu como se isso adiantasse. Como se isso adiantasse. Mas, no fundo, tudo o que ela mais queria era apenas que ele estivesse por perto. Perto do seu corpo e do seu coração. Porém, infelizmente, naquele momento e talvez no resto da sua vida, isso era realmente difícil. Um trabalho para super-herói.

E ela não era Clark Kent. Definitivamente.

E, por isso mesmo, ela preferiu apenas ficar na sua posição preferida durante o resto do dia. Deitada de costas e com os dedos sujos de nanquim, esperando o seu coração voltar a bater... apenas esperando o seu coração voltar a bater...


PARA ELISA

CAN´T STAND ME NOW
Libertines
“If you wanna try, If you wanna try
there's no worse you could do (oh oh oh)
I know you lie (I know you lie)
I'm still in love with you (oh oh oh)”


Ela gostava de ficar naquela posição.

Deitada de lado, apenas respirando e olhando para a parede do seu quarto lilás, cheio de folhas com contos escritos, espalhadas pelo chão. Contos feitos à mão. Contos feitos de sonhos. Contos escritos com desejo. Contos escritos por seus dedos finos e deliciosos, que simplesmente adoravam o cheiro dos amores perdidos e rasgados que as letras exalavam. Amores. Amores. Amores. Amores. E se sua vida tinha alguma espécie de amor perdido, era apenas os amores que ela insistia em guardar na sua caixa de Pandora. E as paredes lilases transformavam-se em pequenos caleidoscópios multicoloridos, como um esboço de algum conto escrito por um beatnick, entupido de desejos lisérgicos. Um beatnick velho, barbudo, cheio de rugas e cicatrizes na pele enrugada. E ela via o seu rosto aparecer e desaparecer nas paredes lilases. Como uma luz negra. Um rosto assustador. Psycho killer total. Palhaço assassino. Antítese do amor. E o que a deixava intrigada era que o tal rosto ora era do beatnick velho e gordo, ora era do seu passado. E ela ameaçava chorar, como não querendo ver, como querendo que as lágrimas escondessem o cenário. Seu coração palpitava e palpitava e palpitava e ela não queria ser a personagem dos seus contos. “Mas, minha filha, isso não é real. Estes amores perdidos são absurdos” - a voz de sua mãe ecoou na memória. E ela sorriu como se isso adiantasse. Como se adiantasse crer que os amores perdidos fossem irreais. Mas, no fundo, tudo o que ela queria era apenas que ele estivesse por perto. Perto do seu corpo e do seu coração. Porém, infelizmente, naquele momento e talvez no resto da sua vida, isso era realmente difícil. Um trabalho para algum mentiroso.

E ela não sabia mentir. Definitivamente.

E, por isso mesmo, ela preferiu apenas ficar na sua posição preferida durante o resto do dia. Deitada de lado e com os dedos perfumados por cigarros, apenas esperando o seu coração voltar a bater... apenas esperando o seu coração voltar a bater...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Going Down

leia e ouça: lou reed || going down “... Time's not what it seems. It just seems longer, when you're lonely in this world. Everything, it seems, Would be brighter if your nights were spent with some girl Yeah, you're falling all around. Yeah, you're crashing upside down. Oh, oh, and you know you're going down For the last time …” Lou Reed || Going Down E o sonho avançava. Apenas avançava. A noite tinha apenas começado. … - Ei mocinha. Mocinha? Me ouve? Ela chacoalhou os cabelos castanhos desgrenhados, um monte de nós sem sentido, apenas ela, virou o rosto confuso e encarou aquele sujeito grande, intimidador, com cara de bravo e que estava imóvel à sua frente, um verdadeiro brusco naquele cenário. - Então, me ouve? Está me ouvindo? - aquele grandalhão insistiu - Me ouve, porra? - disse, de modo grosseiro. Ela olhou com um tanto de medo e sem saber exatamente o que fazer, o que dizer, o que mexer, o que responder, nada disse. Apenas, nada disse. - Você entende? É surd...

Você

leia e ouça: U2 | bad Você. Você é intensa demais, e eu a amo. Muito. Você. Sim, você mesmo, você sabe a quem me refiro: VOCÊ! Você tem os cabelos mais desgrenhados, bagunçados e divertidos do mundo. E eu amo. Você. Cada detalhe, cada aroma, cada toque, cada TUDO. Nós. Tem os olhos mais verdes do mundo, e eu a amo. Amo. Amo você. Minha esmeralda. Minha pequena. Minha mãozinha guia. Você. Você. Apenas você! A mulher que mais merece ser cafuneada no universo, na galáxia, em tudo. Toda hora, todo dia, todo tempo. Você. Eu a amo. Você. Você mesmo. Tem força, tem garra, tem voz, tem presença, tem vida, tem alegria, tem coerência, tem sorriso, tem empatia, simpatia, tem tudo. Pequena, mas gigante. Você. Eu sou muito honrado de receber e dar seus super likes . Te laqueio todo dia, toda hora. Você é simplesmente essencial, especial, única. Você… simplesmente e unicamente VOCÊ existe para mim. Nada mais. Mais ninguém, E por mais burrices que eu faça, que eu repita, que eu erre, imbecil que so...

Quando Você Ama…

  leia e ouça: surf curse || freaks “...Don't kill me just help me run away From everyone I need a place to stay Where I can cover up my face Don't cry, I am just a freak I am just a freak I am just a freak I am just a freak…” (Surf Curse || Freaks) Quando você vive, você erra. Todos nós. Todos. Todos nós erramos, de um jeito ou de outro. Faz parte. Quem nunca errou? Quem nunca? Só quem não viveu. Quando você vive, você se expõe e acaba errando, cedo ou tarde. Mente quem diz que nunca errou, uma vez que certamente também errou em algum momento da vida e tenta negar isso. Eu? Se eu errei, omiti e menti? Sim. Certamente. Muito. Mais do que seria razoável, muito mais do que seria razoável. E só os Deuses sabem como foi difícil e errado e como me arrependo. Arrependimento? Muito. Arrependimento real e verdadeiro. Mas, a verdade é o mais importante. Sempre. E demorei a entender isso. Demorei MUITO. Muita porrada para entender isso. Muita porrada para entender isso. A transparência. ...

COMO A PÁGINA VIRADA E QUASE ESQUECIDA DE UM LIVRO BOM

- Você acha mesmo? – ela perguntou, com uma expressão de puro espanto. Ele desviou o olhar. Olhou para o teto, tentou disfarçar as lágrimas. Sem sucesso. Depois de um minuto de silêncio sepulcral ela insistiu - Então, eu te perguntei. Por favor, me responda porra. Você acha mesmo? Acredita mesmo no que acabou de me dizer? Acha que vou acreditar que você não estava transando com a maldita nos últimos tempos? Que não se envolveu com aquela vagabunda e me passou para trás. Acha que vou acreditar que você ainda me quer? Ele, finalmente, abaixou a cabeça e a encarou bem nos olhos. Olhos frios e de um verde simplesmente lindo. - Vai, fala! – ela insistiu um tanto impaciente, muito irritada. - Sim. Acho. Não só acho como tenho absoluta certeza – ele, finalmente, respondeu, sentindo na garganta a dor e o peso de estar mentindo verdadeiramente. Ela levou as mãos à cabeça em absoluto transtorno. Não conseguia imaginar a razão de estar vivendo aquela cena – Você é um tre...

O VESTIDO LILÁS

Eles moravam em lugares distantes um do outro. Muito. Muito distantes. Cidades diversas e longínquas. Dois Estados. Conheceram-se graças ao destino. A melhor forma de se conhecer, afinal. No entanto, a distância não era um problema para os dois. Definitivamente não era um problema algum. Eles se gostavam como raros meninos e meninas se gostam. Coisa pouco usual de se ver. Coisa pouco usual de se vivenciar de sentir. Certo dia, ele recebeu uma foto dela pelo correio. Ficou surpreso com a beleza do que viu. Ele já a tinha visto, claro, mas ela estava linda, linda demais, casual e vestida com um vestido de verão lilás com pequenos detalhes em verde. Um vestido para provocar. Um vestido de verão para colos lindos como o dela. Para poucos decotes privilegiados e poucos seios deliciosos. Como os seios dela. Vestido lindo. Lindo vestido lilás. E ele enlouqueceu. Não acreditou na perfeição da foto e nos detalhes incertos do que ele NÃO via além do vestido. O desenho que alguém fez dela. Como...