Pular para o conteúdo principal

QUANDO OS RETRATOS CAUSAM DOR


- Moça, moça? – perguntou o taxista enquanto Lia descia do seu carro.
- Sim – ela respondeu, desinteressada.
- Isto é seu? Acho que você deixou aqui no banco de trás – o taxista, gentil, perguntou, segurando um pequeno retrato em preto e branco, todo amssado, de um carinha todo metido a bonito.
Ela olhou para o taxista com constrangimento. Não pôde evitar as lágrimas surgirem em seus olhos. Não pôde evitar a consternação e a raiva. Simplesmente não pôde.
- É da senhora? – o taxista perguntou novamente.
- Não – ela respondeu seca e rude – Não é não.
- Estranho. Achei que fosse. Costumo sempre dar uma olhadinha no banco de trás quando um passageiro sai do meu taxi, para evitar que eles percam as coisas. Esta foto não estava aqui, não. Mas tudo bem. Obrigado moça – concluiu, fechando a porta e acelerando em direção a novos caminhos.
Lia ficou estática enquanto o táxi partia. Viu o veículo branco desaparecer entre os outros carros da avenida e não se moveu.
Pensou em como era idiota. Como era babaca em achar que ele – o carinha do retrato – pudesse durar para sempre na sua vida. Pensou em como era imbecil e lembrou da cena patética dele comendo aquela garota no estúdio, bem ao lado da sua guitarra. A guitarra que ELA, Lia, havia dado a ele.
Começou a chorar discretamente enquanto caminhava. Queria apenas que estivesse chovendo. Assim, ficava mais fácil esquecer que estava chorando. Muito mais fácil.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
NÃO SERIA LEGAL? FAZER PARTE DE UM FILME DE AMOR... - Beatles? - ela perguntou. - Não - ele respondeu, rindo. - Não sei então. - Vai desistir fácil assim? - ele provocou. - Claro. Você acha que você vale tanto a pena? - ela disparou com um sorriso, retribuindo a provocação e brincando como uma menina. - Você é que tem que me responder isso - ele disse. - É? - ela perguntou. - Claro. - Não sei então. - Não sabe o quê? - Se você vale tanto a pena assim. - Achei que eu pudesse valer. - Nem sei por que estamos discutindo isso - ela disse. - Nem eu - ele respondeu, desenhando o nada com os pés descalços na areia gelada. - Deixa eu te dizer uma coisa - ela falou. - À vontade. - Existe algo mais sensacional do que este pôr do sol que você está testemunhando aqui nesta praia? Este pôr do sol de um dia de outono. Nem bem frio, nem bem quente, porém, extremamente doce. - Claro que existe - ele retrucou. - Ah, existe? Posso saber o quê? - Se este momento fizesse parte de um filme, de que gênero s
E QUEM DISSE QUE AS COISAS NÃO PODEM SER ASSIM? APENAS SIMPLES... - Pára! Ela ouviu a frase e virou a cabeça rapidamente. Queria saber de quem era aquela voz doce e suave, porém firme e ligeira, que havia dito a tal palavra para ela. - Pára! Assim – ele repetiu. Ela encarou o dono da voz com uma certa irritação. Apenas para disfarçar. Ele era lindo. Olhos escuros, cabelos pretos longos, um queixo quase barbado, regular e quadrado, e um sorriso sensacional. Estimulante. Aparentemente sincero e interessante. Ela apenas o encarou em silêncio, agora sem qualquer irritação disfarçada. Ele sorriu simpático, querendo quebrar o gelo – A posição do seu rosto daria uma foto. Um retrato lindo, sabe? Por isso pedi, quer dizer, quase mandei, né? Você ficar parada. Queria congelar o momento. Ela segurou um sorriso, apenas para querer parecer ser um pouco mais teimosa. Um pouco mais difícil. Ele ofereceu uma bebida. - Não sei o que está bebendo – ela disse – Como posso aceitar? Ele continuou com o co