Pular para o conteúdo principal
AZULEJOS LÍQUIDOS

One pill makes you larger
And one pill makes you small,
And the ones that mother gives you
Don't do anything at all.

(white rabbit - jefferson airplane - 1967)

Aquele lugar parecia uma cozinha antiga, anos cinqüenta. As paredes eram forradas de azulejos brancos. Inteiramente forradas. Do teto ao chão. Ele parecia não acreditar. Seus sentidos estavam atormentados, inchados, cansados, tontos. O suor escorria pela testa em gotas gordas, cheias de desejos. O único cenário imutável era o composto pelos azulejos. Seu corpo derretia em cascatas coloridas. Sua pele parecia querer esconder as marcas. Todas as marcas de cortes, provocadas nos momentos de dor. Não havia cor nas paredes azulejadas. A cor estava no seu corpo. Cores desbotadas, cores vivas, cores mortas. Ele queria correr para algum lugar longe dali. Algum lugar muito longe daquele espetáculo de caos e desordem. Nada estava no lugar. Mas, porra, não havia nada para estar arrumado. Ele estava só, nu, no meio de uma sala fria, recheada de azulejos de cerâmica brancos. O suor, antes quente, começou a escorrer de forma fria, congelante, apavorante. A imagem dela correndo para os seus braços ficou ainda mais nítida. Mas ela não o abraçou. Passou direto, sem parar, sem olhar, sem sequer demonstrar que ele estava por perto. Sentiu-se um fantasma. Uma alma penada. Um espectro de nada. Somente a dor e batida sacolejante explodindo em seu cérebro eram perceptíveis. Ele estava sozinho. Num mundo de fantasmas, amores perdidos, drogas sintéticas e azulejos brancos. Ele estava sozinho quando acordou. Ele estava sozinho e o seu mundo ainda era o mesmo de antes do sonho, da viagem, do Primal Scream no estéreo. Os azulejos foram embora e ficaram apenas as fotografias deles e os pôsteres de bandas de rock.

Ao lado da cama, um exemplar de Sandman jogado no chão.

Ao lado do estéreo, um vinil de Jefferson Airplane atirado no chão.

Na sua mente, apenas as lembranças (ela) de todas as coisas que ele buscava esquecer...

Pobre diabo que sequer controla os seus sonhos...

One pill makes you larger
And one pill makes you small,
And the ones that mother gives you
Don't do anything at all.


...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Going Down

leia e ouça: lou reed || going down “... Time's not what it seems. It just seems longer, when you're lonely in this world. Everything, it seems, Would be brighter if your nights were spent with some girl Yeah, you're falling all around. Yeah, you're crashing upside down. Oh, oh, and you know you're going down For the last time …” Lou Reed || Going Down E o sonho avançava. Apenas avançava. A noite tinha apenas começado. … - Ei mocinha. Mocinha? Me ouve? Ela chacoalhou os cabelos castanhos desgrenhados, um monte de nós sem sentido, apenas ela, virou o rosto confuso e encarou aquele sujeito grande, intimidador, com cara de bravo e que estava imóvel à sua frente, um verdadeiro brusco naquele cenário. - Então, me ouve? Está me ouvindo? - aquele grandalhão insistiu - Me ouve, porra? - disse, de modo grosseiro. Ela olhou com um tanto de medo e sem saber exatamente o que fazer, o que dizer, o que mexer, o que responder, nada disse. Apenas, nada disse. - Você entende? É surd...

Você

leia e ouça: U2 | bad Você. Você é intensa demais, e eu a amo. Muito. Você. Sim, você mesmo, você sabe a quem me refiro: VOCÊ! Você tem os cabelos mais desgrenhados, bagunçados e divertidos do mundo. E eu amo. Você. Cada detalhe, cada aroma, cada toque, cada TUDO. Nós. Tem os olhos mais verdes do mundo, e eu a amo. Amo. Amo você. Minha esmeralda. Minha pequena. Minha mãozinha guia. Você. Você. Apenas você! A mulher que mais merece ser cafuneada no universo, na galáxia, em tudo. Toda hora, todo dia, todo tempo. Você. Eu a amo. Você. Você mesmo. Tem força, tem garra, tem voz, tem presença, tem vida, tem alegria, tem coerência, tem sorriso, tem empatia, simpatia, tem tudo. Pequena, mas gigante. Você. Eu sou muito honrado de receber e dar seus super likes . Te laqueio todo dia, toda hora. Você é simplesmente essencial, especial, única. Você… simplesmente e unicamente VOCÊ existe para mim. Nada mais. Mais ninguém, E por mais burrices que eu faça, que eu repita, que eu erre, imbecil que so...

Quando Você Ama…

  leia e ouça: surf curse || freaks “...Don't kill me just help me run away From everyone I need a place to stay Where I can cover up my face Don't cry, I am just a freak I am just a freak I am just a freak I am just a freak…” (Surf Curse || Freaks) Quando você vive, você erra. Todos nós. Todos. Todos nós erramos, de um jeito ou de outro. Faz parte. Quem nunca errou? Quem nunca? Só quem não viveu. Quando você vive, você se expõe e acaba errando, cedo ou tarde. Mente quem diz que nunca errou, uma vez que certamente também errou em algum momento da vida e tenta negar isso. Eu? Se eu errei, omiti e menti? Sim. Certamente. Muito. Mais do que seria razoável, muito mais do que seria razoável. E só os Deuses sabem como foi difícil e errado e como me arrependo. Arrependimento? Muito. Arrependimento real e verdadeiro. Mas, a verdade é o mais importante. Sempre. E demorei a entender isso. Demorei MUITO. Muita porrada para entender isso. Muita porrada para entender isso. A transparência. ...

COMO A PÁGINA VIRADA E QUASE ESQUECIDA DE UM LIVRO BOM

- Você acha mesmo? – ela perguntou, com uma expressão de puro espanto. Ele desviou o olhar. Olhou para o teto, tentou disfarçar as lágrimas. Sem sucesso. Depois de um minuto de silêncio sepulcral ela insistiu - Então, eu te perguntei. Por favor, me responda porra. Você acha mesmo? Acredita mesmo no que acabou de me dizer? Acha que vou acreditar que você não estava transando com a maldita nos últimos tempos? Que não se envolveu com aquela vagabunda e me passou para trás. Acha que vou acreditar que você ainda me quer? Ele, finalmente, abaixou a cabeça e a encarou bem nos olhos. Olhos frios e de um verde simplesmente lindo. - Vai, fala! – ela insistiu um tanto impaciente, muito irritada. - Sim. Acho. Não só acho como tenho absoluta certeza – ele, finalmente, respondeu, sentindo na garganta a dor e o peso de estar mentindo verdadeiramente. Ela levou as mãos à cabeça em absoluto transtorno. Não conseguia imaginar a razão de estar vivendo aquela cena – Você é um tre...

O VESTIDO LILÁS

Eles moravam em lugares distantes um do outro. Muito. Muito distantes. Cidades diversas e longínquas. Dois Estados. Conheceram-se graças ao destino. A melhor forma de se conhecer, afinal. No entanto, a distância não era um problema para os dois. Definitivamente não era um problema algum. Eles se gostavam como raros meninos e meninas se gostam. Coisa pouco usual de se ver. Coisa pouco usual de se vivenciar de sentir. Certo dia, ele recebeu uma foto dela pelo correio. Ficou surpreso com a beleza do que viu. Ele já a tinha visto, claro, mas ela estava linda, linda demais, casual e vestida com um vestido de verão lilás com pequenos detalhes em verde. Um vestido para provocar. Um vestido de verão para colos lindos como o dela. Para poucos decotes privilegiados e poucos seios deliciosos. Como os seios dela. Vestido lindo. Lindo vestido lilás. E ele enlouqueceu. Não acreditou na perfeição da foto e nos detalhes incertos do que ele NÃO via além do vestido. O desenho que alguém fez dela. Como...