leia e ouça: ride || polar bear
“...
she knew she could fly like a bird
but when she said
‘please raise the roof higher' nobody heard
they never noticed a word
the light bulbs burn,
her fingers will learn
…”
E, do fundo do armário, como mágica, aquele pedaço de papel surgiu no meio de meias ímpares e roupas amassadas. Simplesmente surgiu. E, ela, surpresa e de primeira, conseguiu conter as lágrimas ao segurar aquele pequeno pedaço de papel verde água em suas mãos pequenas e delicadas.
Frágeis.
Suadas.
Geladas.
Aflitas.
Nervosas.
Tristes.
Ela, sim, conteve as lágrimas e lembrou do exato momento em que tocou pela primeira vez aquele pedaço de papel. A tristeza passou por UM segundo e ela sorriu da beleza daquele momento. Esqueceu o tremor das mãos e, firme, segurou o papel para seus olhos esmeralda dançarem e dançarem e dançarem novamente por toda a extensão daquele pedacinho de papel.
Correu e correu os olhos pelo desenho de palavras à sua frente. Linda combinação de vogais, consoantes e sentimentos. Muitos sentimentos e, claro, lembranças… as melhores lembranças...
“olhos verdes / lapidados / esmeraldas radiantes / tão raras / tão calmas / olhos verdes / tão brilhantes / me olham / me admiram / me enfeitiçam / e encantam / olhos verdes / olhos verdes / generosos / tão gigantes / olhos verdes / que fascinam / envolvem / me cativam / olhos verdes / vida minha / minha vida / fevereiro / olhos verdes / esses olhos verdes / a mudaram / mudaram a minha vida / a minha vida por inteiro / olhos verdes / olhos verdes / tão polidos / incontidos / olhos verdes / tão serenos / olhos verdes / nunca aflitos / olhos verdes / tão vultosos / olhos verdes / amorosos / olhos verdes / tão acesos / olhos verdes / tão brilhantes / olhos verdes / verdes olhos / inquietantes / apaixonantes / olhos verdes / olho o verde / vejo o mapa / outra cidade / vejo a estrada / não há choro / há sorriso / e a lembrança / d´olhos verdes / cá comigo / olhos verdes / olhos verdes / mesmo longe / nunca distantes / olhos verdes / me aquecem / olhos verdes / tão vibrantes / sempre /
olhos verdes / comigo / olhos verdes / sempre comigo /
olhos verdes / olhos verdes
JAMAIS ausentes
JAMAIS distantes
olhos verdes
olhos verdes
TEUS
APENAS TEUS
quero somente os teus
olhos verdes
eternamente
os teus
olhos verdes
…”
E, ao terminar a dança da leitura, ao terminar de revisitar todo aquele mundo de vogais, consoantes e sentimentos, ela simplesmente não conseguiu mais se conter e apenas…. chorou.
Muito.
Como nunca.
Como nunca.
Ela chorou como quis e como não quis.
Muito.
Chorou como não queria mais.
Chorou de alegria, de tristeza, de saudade, de vontade, e de tudo o que ela queria expulsar de dentro dela, principalmente a raiva.
E chorou fluida.
E lembrou que não podia viver mais assim.
Não mais sem ele.
Não mais assim.
E, quando ela lembrou que podia voar, percebeu que foi ele que rompeu o telhado para ela ir além e além e além.
Ele?
Ele?
Não… claro que não.
Ele não fez nada sozinho. nada. Sem ELA, ele nada faria. Nada. Ele rompeu o telhado COM ela e por ELES, para ELES voarem. Para ELES voarem para onde quer que fosse, onde quer que quisessem.
Juntos.
Sempre.
Eles.
Os dois.
E, assim, ela enxugou as lágrimas sem cuidado algum e pegou apressada o telefone.
Do outro lado, ansioso, ele aguardava.
Inteiro.
Não mais inseguro.
Pronto.
Pronto para ela.
E voaram. Ainda mais felizes e fortes.
Apenas voaram….
juntos….
sempre juntos…
“...
she knew she was able to fly
because when she came down
she had dust from her hands on the sky,
she said I touched a cloud
her fingers will learn
the light bulbs burn
…”
Photo by: Prismes (Sophie Thouvenin)
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