Pular para o conteúdo principal
SAUDADES ADORAVELMENTE DESCONHECIDAS

- E então Grasi? Nunca mais teve notícias da Isa? – Gustavo perguntou, enquanto acendia um cigarro e pedia mais um capuccino ao garçom do Clube Varsóvia.
- Não Gus, não. Já faz alguns meses. Ela deu uma desencanada. Sabe como são essas coisas né? - Grasi respondeu, também acendendo um Marlboro.
- Entendo assim, mais ou menos. É muita maldade sumir assim – disse Gus, com um sorriso.
- Ah, você não deve ficar chateado. Ela teve mil problemas. Eu nunca soube ao certo o que rolou, mas ela deu uma desencanada total. Uma sumida para recarregar as energias, para recarregar a vida. Ela deve estar flutuando por aí, no espaço, apenas para aliviar a dor, apenas para afastar os maus pensamentos.
- Eu sei, claro. Não fico chateado não. De forma alguma. Apenas gostaria de tê-la por aí, alive and kicking. Ela faz falta, não?
- Nem me fale Gus, nem me fale. Adoro aquela garota. Ela é divertidíssima. Nunca vi ninguém tão fascinada por tintura para cabelo de farmácia como ela. Muito embora morássemos em cidades diferentes, ela sempre foi muito importante para mim. Esperta, inteligente, carinhosa, interessante, enfim, uma pessoa adorável. Ela sempre me deu a maior força, sabia? Quando eu estive mal, com todos aqueles problemas e aquelas pílulas coloridas malditas, foi ela que estava lá, me escrevendo, me dando ajuda, me ligando, enfim, sendo uma puta amiga. Adoro essa garota.
- Tem razão. Ela é fucking, fucking great – disse Gus, gargalhando.
- Haha, ela iria adorar esse termo. Essa definição dela própria.
- Espero que sim.
- O curioso... – disse Grasi – ...é que vocês nunca se encontraram pessoalmente, né?
- É mesmo – consentiu Gus – Nunca tivemos oportunidade. Você sabe como foi, começou com aquele papo de ela ser sua amiga do interior e você falar de mim para ela e vice versa, daí conversamos por telefone quando você estava internada, daí falamos de uma amiga dela, a Clara, mochileira, daí passamos a trocar cartas e ficamos amigos virtuais, amigos de cartas escritas em papel e em nanquim. Como antigamente. Como nos tempos nada modernos. Nada dessas bobagens tecnológicas. Algo adoravelmente démodé. Foi ótimo. Trocamos grandes idéias naqueles papéis de carta.
- Engraçado – disse Grasi.
- O quê? – perguntou Gus.
- Não é estranho sentirmos saudades de quem sequer conhecemos?
- Mas quem disse que não a conhecemos? – ironizou Gus, com um sorriso – Quem disse?


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios. ...

Going Down

leia e ouça: lou reed || going down “... Time's not what it seems. It just seems longer, when you're lonely in this world. Everything, it seems, Would be brighter if your nights were spent with some girl Yeah, you're falling all around. Yeah, you're crashing upside down. Oh, oh, and you know you're going down For the last time …” Lou Reed || Going Down E o sonho avançava. Apenas avançava. A noite tinha apenas começado. … - Ei mocinha. Mocinha? Me ouve? Ela chacoalhou os cabelos castanhos desgrenhados, um monte de nós sem sentido, apenas ela, virou o rosto confuso e encarou aquele sujeito grande, intimidador, com cara de bravo e que estava imóvel à sua frente, um verdadeiro brusco naquele cenário. - Então, me ouve? Está me ouvindo? - aquele grandalhão insistiu - Me ouve, porra? - disse, de modo grosseiro. Ela olhou com um tanto de medo e sem saber exatamente o que fazer, o que dizer, o que mexer, o que responder, nada disse. Apenas, nada disse. - Você entende? É surd...

FIREWORKS

- Ai, que merda! - ela gritou, visivelmente irritada. - Tá louca? - ele respondeu, surpreso com o tom de voz dela. - Odeio esta música. DJ idiota - ela emendou - O Clube Varsóvia já foi melhor. Imbecil de escolher isto para o ano novo. - Você é louca? - ele perguntou, sério. - Não, porra, sou louca não. - Mas parece. Caralho. Há quanto tempo você vem no Varsóvia e NUNCA disse isso. O que há? Algum problema? - ele perguntou. Ela balançou a cabeça e seus olhos ficaram cheios de água - Nada - ela disse e confirmou - Nada. Não aconteceu porra nenhuma. - Como assim, nada? - ele questionou - Desde quando você fica transtornada assim? Por tão pouca coisa? Desde quando uma canção escolhida por um DJ idiota te tira do sério? - Nada, puta que o pariu. Nada. Pode ser? - ela disse, bastante brava. - Qual seu problema Lisa? Posso saber? Ela apenas abaixou a cabeça. - Me diz - ele insistiu. Ela ficou em silêncio por alguns instantes e emendou - Hoje é primeiro de Janeiro. Ele a olho...

Luar || Penumbra || Sonho || Amor

leia e ouça: Sunset Rollercoaster - I Know You Know I Love You “ Watch the sky, you know I Like a star shining in your eyes Sometimes I wonder why Just wanna hold your hands And walk with you side by side I know you know I love you, baby I know you know I love you, baby ” (Sunset Rollercoaster - I Know You Know I Love You) Penumbra. Madrugada. 4:10 da manhã. Luz? Apenas a luz do luar combatendo as frestas da persiana mal fechada e que estava sofrendo bastante com as rajadas do vento cortante vindo ao seu encontro de forma incessante e dura. Sábado. Frente fria. Penumbra. Madrugada Amor. 4:13 da manhã. Luz? Apenas a dela. Do delicioso e escultural corpo. Dela. Aquele corpo nu ao seu lado, descoberto delicadamente e de forma não intencional pelos movimentos da noite. Linda. Sensual. Impecável. Escultura para os apaixonados. Como ele. E ele apenas a observava sob a luz do luar forte. Lua cheia. Lua cheia de amor, paixão, ímpeto, vontades, desejos, lua cheia. Lua cheia de vida. Lua cheia d...

Talvez

leia e ouça: Sinéad O'Connor || Love Letters   “ Love letters straight from you heart Keep us so near while apart I'm not alone in the night When I can have all the love that you write I memorize every line And I kiss the name that you sign, oh And darling then I read again Right from the start Love letters straight from your heart ” Talvez Talvez ser Talvez crescer Talvez nascer Talvez viver Talvez morrer Morrer? Não Talvez… Apenas talvez Talvez Talvez ser Madrugada Olhos da lua Cores fatigadas Talvez Talvez apenas ser Vida cruel que suga e é sugada Talvez Ser Talvez todo dia Talvez toda noite Talvez todo dia Talvez sorte  Talvez não Talvez má sorte Talvez não Talvez bom azar Talvez não Talvez tudo Talvez nada Talvez vida Talvez morte Talvez uma jornada Talvez Talvez necessário dizer  O que precisaria ser dito Talvez não manter Abafado este grito Talvez Talvez beleza Talvez tristeza Talvez grandeza  Talvez lerdeza Talvez vida Talvez não Talvez tudo Talvez nada ...