- O que você me disse? – ela perguntou incrédula, mal acreditando
no que havia acabado de ouvir, porém desejando ardentemente que fosse verdade.
A mais pura verdade.
Ele a olhou com surpresa e com os olhos vermelhos e bêbados.
Nada disse. Preferiu o silêncio. O cruel e malvado silêncio.
- Vai, diz. Repete – ela insisitiu querendo muito ouvir
novamente o que ele havia acabado de dizer, confessa porra – insistiu.
Ele disfarçou apenas e disse com a voz trôpega e confusa – Não
estou entendendo nada querida. Nada. Absolutamente nada. O excesso de vodka,
além do barulho infernal deste Clube Varsóvia não deixa meu cérebro funcionar
em paz. Não estou entendendo mais nada. O que você quer? Um cigarro? Tenho
aqui, mas apenas aqueles mentolados que você odeia – disfarçou – Caso queira eu
te arrumo “cigarros” mais fortes – emendou de forma imbecil, infantil, idiota.
Um verdadeiro imbecil.
Ela o encarou sem paciência. Sem a menor paciência e apenas
disparou – Você sabe muito bem trouxa. Imbecil. Não se trata de cigarros nem de
qualquer outra coisa. O que você acabou de me dizer? Repete – ela insistiu –
Isto muda tudo. Repete... – Implorou.
Ele deu de ombros e respondeu – Não sei. Não lembro. Agora não
me lembro.
- Não? – ela perguntou.
- Não mesmo – ele respondeu mentindo, mais uma vez, ainda mais
uma vez.
- Tem certeza? – ela perguntou novamente, em excesso de
paciência.
Ele sorriu o seu sorriso mais falso e mais bêbado falseado.
Apenas disse – Tenho. Não sei exatamente o que eu disse ok? Podemos ficar
assim?
Ela fechou a cara desgostosa e não respondeu.
- Podemos? Por favor. – ele insistiu.
- Não está mais bêbado? – ela perguntou em tom de provocação –
Passou rápido esta porra de porre não acha? – Provocou – Seu imbecil –
completou.
- Olha minha querida... – ele tentou argumentar.
- ... “Minha querida”
é o caralho... – ela interrompeu - Vai se foder. Idiota – completou cruel e
rápida.
- Ainda bem que você não gosta de palavrões – ele provocou –
Ainda bem. E você os detesta nos meus textos.
Ela arremessou no rosto dele o pouco de vinho tinto chileno que
restava em seu copo. Furiosa. Absolutamente furiosa.
- Porra. Isto mancha – ele respondeu cínico e irado.
Verdeiramente irado.
- Vá se foder – ela respondeu enquanto se levantava – Vou
embora.
- Depois nos vemos? – ele perguntou ingênuo.
Ela fez o gesto do dedo do meio e o mandou para o lugar do qual
ele nunca deveria ter saído. Nunca deveria ter saído. Com certeza...
- Por favor... – ele insistiu.
- Tchau. Paga a porra da conta – ela disse antes de virar as
costas e ir embora.
Ele?
Ele permaneceu no Clube Varsóvia bebendo mais uma dose da sua
vodka barata e vagabunda e achando que a vida é muito mais dos que palavras mal
faladas em noites mal desenhadas...
...
Pobre idiota...
...
Pobre idiota que não disse o que pensava... Simplesmente não
disse efetivamente o que realmente pensava...
...
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