Pular para o conteúdo principal

ESTRANHOS CONHECIDOS...


- De onde você veio? – ele perguntou todo alegre, todo sexy, todo imbecil, todo bêbado, com um copo de cerveja na mão direita e um cigarro na mão esquerda – De onde? – Qual planeta? Não entendo, não sei, não conheço. Outra galáxia?
O Clube Varsóvia estava lotado.
Muito.
Absolutamente lotado para um dia de semana chuvoso.
Um dia de semana normal e comum.
Muito chuvoso.
Muito chuvoso.
E ela apenas sorriu.
Muito tédio, pouca prosa.
Nada disse.
Mudez total.
Nudez da alma total.
Apenas o som do DJ do Clube Varsóvia.
- Então, me conte, de onde veio? – ele repetiu ansioso.
- De lugar nenhum. Não vim de nenhuma outra galáxia, de nenhum outro planeta, de nenhum outro bairro. Porra nenhuma. Eu sempre estive aqui. Sempre. Sempre estive. E você nunca percebeu. Nunca. Acho que  este foi o problema ou o mal entendido. Não sei. Entenda você.
Ele a olhou desconfiado, cético, sem graça. Não respondeu.
Tomou mais um gole da sua cerveja, deu uma tragada funda em seu cigarro barato e apenas sorriu nervoso. Muito nervoso.
Ela sorriu ainda mais.
Nada nervosa.
Um sorriso largo, branco, grande e lindo.
- Da onde você veio? – ele perguntou novamente, como um imbecil.
- Você nunca me viu, certo? – ela perguntou com um sorriso cínico, irônico, lindo. Femme fatale – Nunca? – insistiu.
Ele meneou a cabeça e confirmou de forma negativa.
- Sempre te vi – ela disse direta – Sempre! Sempre mesmo! – pontuou.
Ele a olhou com surpresa e espanto e não entendeu nada. Não alcançou o que ela queria dizer. Nada. Pobre otário.
- Sempre te vi. Sempre. Você que nunca me notou – ela cravou direta, certeira, fatal.
E como em um relance infantil, raso e rasteiro, o flashback veio. Totalmente. E veio com força. Muita força.
E ele lembrou.
Lembrou de verdade.
Lembrou mesmo.
- Você? – perguntou com a voz trêmula, com a voz zonza - Você? - repetiu.
Ela apenas sorriu.
- Vamos conversar? Por favor? Qual seu nome? – ele perguntou.
E ela deu um belo e gordo gole em sua cerveja, sorriu e piscou para ele. Virou as costas e foi embora. Sem dizer adeus, sem dizer nada mais.
E ele nunca mais a viu.
Nunca mais.
Ao menos no Clube Varsóvia.
Ao menos em qualquer outro lugar.
E assim, mais uma história de amor se perdeu. Mais uma história de amor se perdeu.
Ah, os dias de chuva...
Ah, os dias de chuva...
Mistérios e sorrisos surpreendentes.
De cair os queixos incrédulos...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
APENAS RELÂMPAGOS... O beijo que você me deu sob o sol A chuva molhando os campos de maçã (Sob o Sol - Vibrosensores) Lembro que choveu MUITO naquela tarde. Muito mesmo. Mais do seria normal em qualquer outro dia, em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Tudo estava bem, mas o céu, como puro capricho, decidiu se rebelar. O céu, assim de repente, tornou-se cinza. Absurdamente cinza. Cinza chumbo, quase noite. E choveu muito mesmo naquela tarde. Como jamais eu pensei que poderia chover em qualquer outro dia normal. Em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Lembro-me que eu estava no parque central, quieto, pensando nas verdades que eu havia ouvido e arquitetando uma fuga mirabolante do viciado e repetitivo labirinto caótico que a minha vida havia se transformado. Lembro-me que não estava sol, nem tampouco abafado, e que, portanto, não havia tantas nuvens no céu capazes de provocar aquela tempestade. Não mesmo. Mas, ainda assim tudo aconteceu. Não me dei conta, e,