Pular para o conteúdo principal

ESCREVE?


- Escreve? – ela pediu com os olhos meio úmidos, muito tristes.

- Escreve? – repetiu.

Ele a olhou muito sem graça, todo sem jeito, quase sem nada.
Absolutamente sem nada.
Nada.
Como sempre.
Como sempre ele.
Um nada.

Silêncio total.

Absoluto.

Apenas silêncio.

- Escreve, porra? Preciso gritar – E ela gritou.

Alto.

Silêncio.

Blend.

Vodka.

Bebida artesanal e cheiro de nicotina barata.

Cheiro de nada.
Cheiro de tudo.

E ele olhou para o teto, para o céu, para a puta que o pariu, como se pedisse alguma palavra ou ajuda.

Uma luz.
Algo.

Algo que nunca veio.

Ao menos naquele momento.

Ao menos naquele momento.

- O que você quer? - ele perguntou - O que você quer de mim? - repetiu - Ainda mais? - prosseguiu.

Ela tomou um gole longo e gordo da porra do copo de vodka vagabunda que estava ao seu alcance e disse de forma fria, seca e sem saco - Escreve?

Ele "titubeou" - se é que alguém ainda conhece esta palavra estranha - e nada disse.
Silêncio e palidez.

Olhou para o alto e apenas respondeu – Não. Não. Não escrevo porra nenhuma. Escrevo o que eu quiser, quando quiser, da forma como quiser. E se eu quiser. Ok?

Os olhos já não eram úmidos.

Eram apenas tristes.
Muito.
Azuis, gordos e tristes.

Olhos mudos.

E ela nada disse.

E ele não escreveu.

Apenas chorou.
Ela?

Também apenas chorou...

E nunca mais se viram...

Nunca mais....

Palavras?

Escrevê-las talvez doem demais.

Demais...


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.

Quando Você Ama…

  leia e ouça: surf curse || freaks “...Don't kill me just help me run away From everyone I need a place to stay Where I can cover up my face Don't cry, I am just a freak I am just a freak I am just a freak I am just a freak…” (Surf Curse || Freaks) Quando você vive, você erra. Todos nós. Todos. Todos nós erramos, de um jeito ou de outro. Faz parte. Quem nunca errou? Quem nunca? Só quem não viveu. Quando você vive, você se expõe e acaba errando, cedo ou tarde. Mente quem diz que nunca errou, uma vez que certamente também errou em algum momento da vida e tenta negar isso. Eu? Se eu errei, omiti e menti? Sim. Certamente. Muito. Mais do que seria razoável, muito mais do que seria razoável. E só os Deuses sabem como foi difícil e errado e como me arrependo. Arrependimento? Muito. Arrependimento real e verdadeiro. Mas, a verdade é o mais importante. Sempre. E demorei a entender isso. Demorei MUITO. Muita porrada para entender isso. Muita porrada para entender isso. A transparência.

Ela, A Mulher da Minha Vida

leia e ouça: champagne supernova || vitamin string quartet tribute to Oasis Ah, se eu não tivesse me omitido. Ah, se eu não tivesse traído (ainda que sem querer, mas é sempre sem querer, né? Sempre. Sempre um erro ou vários. Muitos). Ah, se eu tivesse me tratado. Ah, se eu tivesse perguntado. Ah, se eu não tivesse me auto sabotado. Sempre. Ah, caso eu tivesse apenas existido de forma tão transparente. Ah. Eu não a teria perdido. Tantos ahs. Tantos. E sobra a tristeza, o chão, a queda, o ralo, as mentiras, as dívidas, enfim, sobra nada. Nada. E tudo de dor. Em excesso. Compulsão. Ah, se eu tivesse vivido. Ah, se eu tivesse sido simples. Otário. Eu. Muito prazer. Eu. Ah, se eu tivesse pedido ajuda. Ah, caso eu tivesse vergonha na cara. Ah, caso eu tivesse espelho em casa. Ah. Tantos ahs. Tantos. Mas, agora, eles não resolvem. Os ahs vieram tarde demais. E dói. Muito. Mas sigo. Seguirei. Triste, em lágrimas, chorando, tentando e vivendo. Do jeito que der. Do jeito que dá. Aprendendo. Apre