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O MEDO TRISTE EM UMA SALA COLORIDA

- Você está com medo de mim? - ela perguntou, meio divertida, meio provocante.

Ele olhou para o teto e ficou em silêncio, tentando enxergar alguma resposta na atmosfera neon daquela sala.

- Está? - ela insistiu, lust for life, lust for love.
- Talvez.
- Talvez?
- É. Talvez.
- Nem você sabe o que você sente? - ela arriscou.
- Não. Definitivamente eu sei porra nenhuma sobre nada. Esta é a maldita verdade.
Ela sorriu e apenas concordou com a cabeça.
- Tudo é muito foda, sabe?
- Você é um tremendo babaca - ela disparou, sem piedade.

Ele olhou novamente para o teto e não disse uma palavra.

- Nossa, você é muito babaca. Você sequer quer experimentar, tentar, enfim, sequer quer provar.
- Provar o quê? Experimentar o quê. Que tortura - ele disse, sem paciência.
Ela o encarou com fúria. Muita fúria - O meu beijo, seu imbecil. O meu corpo. Tudo - ela disparou, olhando direto para ele, olhando bem no fundo daqueles olhos azuis tão cheios de angústias e de vontades e de desejos.

Ele suspirou. Junkie. Deixou o teto para lá e encarou aquela menina sentada à sua frente, toda linda e cruel, no carpete colorido da sala - Acho melhor eu ir embora.

Ela ficou sentada no chão e apenas indicou a porta com o baseado.

- Nos vemos amanhã? - ele perguntou, enquanto levantava.
- As usual - ela disse, num lamento, enquanto era encoberta pela fumaça do cigarro.
- Então tá.

Antes de sair, ele virou-se e olhou para ela sentada no carpete colorido da sala, fumando a sua viagem e olhando através da janela. Não disse nada. Apenas abriu a porta e foi embora.

E do lado de fora, havia apenas um babaca.

Eu tenho medo. Eu tenho muito medo. Medo de mim - pensou, triste, enquanto o elevador não chegava.

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NUCA

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