Ele acordou de madrugada, ao som de trovões.
Prenúncio de chuva.
Prenúncio de tempestade.
Prenúncio de tudo mais.
Ele acordou de madrugada, ao som de trovões
Fortes.
Intensos.
Assustadores.
Ele acordou suado, nervoso, assustado.
Pulou do sofá.
Desespero e vontade de gritar.
Sem som.
Sem nada.
Nada conseguiu sair.
Sorte dos vizinhos e da noite.
Ele se deu conta de que ela não estava lá.
Não mais.
Nem na cama e nem noutro sofá.
Foi embora.
Partiu.
Sumiu.
Há tempo suficiente de ele perceber.
Perceber.
Os trovões continuavam.
A chuva?
Briosa e paciente, teimava em começar.
Não.
Ainda não.
Ele decidiu não mais dormir.
Ao menos naquele momento.
Acendeu um cigarro.
Completou um copo de vodka e manteve a luz apagada.
Sem luz.
Sem som.
Sem ela.
Sem sentimento.
Ele.
E de todos os seus arrependimentos, o mais grave era não ter se despedido de forma adequada.
Não ter se despedido com um baile com ela ao som de The Clash.
Ao contrário.
O único baile que restou foram palavras rudes e sentimentos ruins.
Nada como deveria.
E após mais um gole ele percebeu que a chuva havia começado a cair.
Agora sim, tudo estava mais leve.
Muito mais leve...
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