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A CONTINUAÇÃO DO CONTO ANTERIOR...

Após o silêncio, ele decidiu ir embora. Tão logo ele fechou a porta para sair da sua vida, ela permitiu a primeira lágrima escorrer inteira pelo seu rosto. E ela sufocou o grito, muito mais por ele ainda estar por perto e poder ouvi-lo do que pela ausência de vontade em pronunciá-lo. E ela entrou em desespero e pensou que estava tudo errado na sua vida. Na sua ridícula vida. Que, no fundo, porra, não era nada ridícula, era apenas como a de todos nós. E enquanto chorava, ela sentia como se tivesse tomado um dos maiores golpes da sua vida. Um golpe forte, um soco pesado e violento. Uma porrada daquelas que machucam, que deixam marcas, que causam danos, mágoas. Daquelas que ferem. Que faz sangrar. Ela sentia como seu supercílio estivesse aberto. Como se o sangue jorrasse pela sua tez. Como se o sangue jorrasse e a sua mistura com o rio de lágrimas que ela produzia, criasse uma espécie de tinta psicodélica, uma espécie de tinta triste, uma espécie de tinta escura, vermelho sangue, utilizada para criar quadros sombrios, rejeitados, infelizes. Ela jamais pôde imaginar que a verdade contida nas palavras dele seria capaz de combater o seu amor. Jamais. E ela ficou andando de um lado para outro na sala, chorando e fumando e chorando e fumando e bebendo e andando e pensando e chorando e sem saber para onde ir ou mesmo sem saber o que fazer. Até que a noite morreu, o dia nasceu e ela desistiu. Jogou-se no chão como nocauteada. Como uma lutadora derrotada, sufocada em ferimentos, cuspindo sangue e sujando o chão com o que sobrou dos seus dentes. E ela ficou deitada por horas até o sol bater em sua cara como se fosse uma caixa de primeiros socorros caindo do décimo andar. Mesmo ferida, talvez eu ainda possa lutar – ela pensou, esboçando um sorriso – Caralho, é lógico que eu vou lutar. Pelo resto da minha vida...


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NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
APENAS RELÂMPAGOS... O beijo que você me deu sob o sol A chuva molhando os campos de maçã (Sob o Sol - Vibrosensores) Lembro que choveu MUITO naquela tarde. Muito mesmo. Mais do seria normal em qualquer outro dia, em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Tudo estava bem, mas o céu, como puro capricho, decidiu se rebelar. O céu, assim de repente, tornou-se cinza. Absurdamente cinza. Cinza chumbo, quase noite. E choveu muito mesmo naquela tarde. Como jamais eu pensei que poderia chover em qualquer outro dia normal. Em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Lembro-me que eu estava no parque central, quieto, pensando nas verdades que eu havia ouvido e arquitetando uma fuga mirabolante do viciado e repetitivo labirinto caótico que a minha vida havia se transformado. Lembro-me que não estava sol, nem tampouco abafado, e que, portanto, não havia tantas nuvens no céu capazes de provocar aquela tempestade. Não mesmo. Mas, ainda assim tudo aconteceu. Não me dei conta, e,

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