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QUANDO AS CARTAS SÃO DEVOLVIDAS POR AUSÊNCIA DE ENDEREÇO

Ela abriu sua pequena caixa de papéis antigos, textos mal escritos e fotos amarelas e feias, e mal acreditou na carta que encontrou...

“Então você se acha assim mesmo? Um misto de erros e trapaças e enganos e fracassos. Uma piada. Uma piada sem graça. Uma pessoa a quem ninguém leva a sério, nem mesmo você. Uma pessoa desprovida de qualquer capacidade de as pessoas gostarem de você. Uma pessoa que pensa que a solidão pode aliviar sua dor, sua dor em existir, sua dor por não amar, sua dor por não compreender que você não é o centro do universo e que as pessoas não querem ser sua amiga. Não, querida, você está errada. Você não é nada disso. Você apenas precisa aprender que a vida não é feita de inverno e dias cinzas. A vida é feita de sonhos, de sol, de noite, de fúria, de desejos, de energia, de sorrisos e, claro, também de coisas ruins, desagradáveis e incômodas. Mas, ora, você está viva ou o quê? Você precisa aprender a ser você. Apenas ser você. Ninguém pede mais do que isso. E se todos te tratam como uma piada e não percebem que você quer chorar e quer gritar, mande todos para o inferno. É lá o lugar das pessoas tolas. O que nunca foi o seu caso, muito embora você ainda acredite nisso.
Te amo


E ela sorriu. Não acreditou que havia escrito aquela carta e nem lembrava que ela ainda existia. A carta que ela escreveu para ela mesma, ainda adolescente, numa solitária tentativa de aquecer seu coração numa solitária noite chuvosa de inverno. E por mais que ela ainda gostasse da noite e dos tons cinzas, sorriu com carinho ao perceber que aquelas palavras somente fariam sentido agora, anos depois, numa quente manhã de verão...

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NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
APENAS RELÂMPAGOS... O beijo que você me deu sob o sol A chuva molhando os campos de maçã (Sob o Sol - Vibrosensores) Lembro que choveu MUITO naquela tarde. Muito mesmo. Mais do seria normal em qualquer outro dia, em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Tudo estava bem, mas o céu, como puro capricho, decidiu se rebelar. O céu, assim de repente, tornou-se cinza. Absurdamente cinza. Cinza chumbo, quase noite. E choveu muito mesmo naquela tarde. Como jamais eu pensei que poderia chover em qualquer outro dia normal. Em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Lembro-me que eu estava no parque central, quieto, pensando nas verdades que eu havia ouvido e arquitetando uma fuga mirabolante do viciado e repetitivo labirinto caótico que a minha vida havia se transformado. Lembro-me que não estava sol, nem tampouco abafado, e que, portanto, não havia tantas nuvens no céu capazes de provocar aquela tempestade. Não mesmo. Mas, ainda assim tudo aconteceu. Não me dei conta, e,