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QUANDO O SOL DEMORA DEMAIS PARA NASCER E A LUA, CRUEL, NADA FAZ...NADA FAZ...

- Vamos dançar Nando? – Ciça disse, com um dos seus maiores sorrisos.
- Agora? Já é quase meia noite. Você quer sair? – perguntou.
- Não. Subimos no telhado do prédio. Situação não usual. Diversão garantida. Aproveitamos e dançamos admirando a cidade, as luzes, a noite, os prédios.
- Claro – disse Nando, levantando e pegando seu casaco.

E o edifício era daqueles antigos, típica construção dos anos sessenta, com um terraço gigante, enorme, cheio de pastilhas coloridas e com um amplo espaço vazio, perfeito para se admirar a noite, perfeito para danças noturnas, perfeito para sonhos românticos.

- Não acredito! – Nando disse, assim que chegou ao topo do prédio – Você colocou essas velas? E essas flores? E esse rádio? Ficou lindo Ciça...absolutamente lindo.
- Fico feliz que tenha gostado. É para você. Para nós dois.
- Ciça, eu preciso falar com você – disse Nando, sério.
- Depois querido, agora eu quero dançar.

E dançaram e dançaram e dançaram... por momentos que mais pareceram horas, eles dançaram felizes, quase como crianças.

- Nando? – Ciça disse, quase tímida, enquanto observavam o barulho da noite
- Sim?
- Nunca te disse antes, mas eu te amo...desculpe. Eu precisava dizer isso.

Depois de breves segundos de silêncio, ele respondeu – Ciça, Ciça... eu não sei o que te dizer. E eu não quero te machucar e eu não quero te ferir. E eu precisava ter tido coragem para ter te falado antes. Eu não queria ser canalha. Ao menos hoje não. Não podemos mais ficar juntos.
- Eu sei. Eu sei. Não precisa dizer nada.
- Ciça...eu não te amo. Ao menos não da forma como você gostaria.
- Eu já havia percebido – ela disse, tentando conter as lágrimas – Eu já havia percebido. Inútil tentativa de recuperar o que se perdeu. Desculpe-me.
- Nunca é inútil – Nando tentou animá-la – Nunca. Você fez o certo. Espero que não me odeie.

Ela o abraçou com força e disse, chorando baixinho – Sabe o que é mais irônico? No dia em que fui mais feliz, por ter tido a coragem de dizer tudo aquilo que sempre evitei, fui, também, a pessoa mais triste desse mundo. Por exclusiva culpa minha...por exclusiva culpa minha...
- Irônico... – ele afirmou, abraçando-a com força.

E ficaram ali, por horas, tristes e calados, esperando a noite sair de cena. Tristes e calados, tristes e calados...



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NUCA

Ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Definitivamente não. Sem contas, protestos, cobranças ou ligações indesejadas. Nada. Nada a perturbar. Existiam apenas os lábios de Fernanda em sua nuca. Lábios deliciosos e densos. Intensos. Sempre pintados de uva. Sempre lindos. E os arrepios. Muitos arrepios. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. Muito feliz. Não existiam mais as más notícias. Não. Defitivamente não. Havia um aroma de uva no ar. Um perfume. E palavras sussuradas na dose certa. Na dose certa. E ela entrava em transe. Transe total. O lábio de Fernanda em sua nuca a deixava completamente feliz. Muito feliz. E molhada. E o abraço que vinha depois era como um gatilho para uma boa noite. Toques. Reflexos. Seios.
APENAS RELÂMPAGOS... O beijo que você me deu sob o sol A chuva molhando os campos de maçã (Sob o Sol - Vibrosensores) Lembro que choveu MUITO naquela tarde. Muito mesmo. Mais do seria normal em qualquer outro dia, em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Tudo estava bem, mas o céu, como puro capricho, decidiu se rebelar. O céu, assim de repente, tornou-se cinza. Absurdamente cinza. Cinza chumbo, quase noite. E choveu muito mesmo naquela tarde. Como jamais eu pensei que poderia chover em qualquer outro dia normal. Em qualquer outro dia que não aquele. Maldito. Lembro-me que eu estava no parque central, quieto, pensando nas verdades que eu havia ouvido e arquitetando uma fuga mirabolante do viciado e repetitivo labirinto caótico que a minha vida havia se transformado. Lembro-me que não estava sol, nem tampouco abafado, e que, portanto, não havia tantas nuvens no céu capazes de provocar aquela tempestade. Não mesmo. Mas, ainda assim tudo aconteceu. Não me dei conta, e,