Pular para o conteúdo principal
GAROTOS E GAROTAS. MOLEQUES E...

- Então tá – ele disse, ríspido – Faça o que bem entender da sua vida.
Ela apenas o olhou com um ligeiro ar de superioridade – falsa e fugaz superioridade – e disparou, fingindo ser má – Eu sempre fiz o que quis da minha vida. Só que você, idiota, nunca percebeu – finalizou, virando mais um gole de tequila.
Ele a encarou por alguns segundos - Tem razão querida. Tem toda a razão. Eu nunca percebo nada da sua vida, nada do que você faz, nada do que você pensa, nada do que você é, enfim, nada do que se passa ao meu redor – ele disse, agora irônico – Absolutamente nada. Porra nenhuma. Nada, nada e nada!
Ela sorriu, marota - É por isso que você é meu melhor amigo – sentenciou, com um belo e lindo sorriso.
Ele retribuiu o sorriso e falou, com todo o afeto, como o quintal da casa da avó – Você é um doce, sabia? Um doce. De verdade. Um adorável presente. Daquelas pessoas que surgem na nossa vida do nada, apenas para torná-la mais suportável a cada dia, mais confortável a cada briga, mais...mágica. Mais mágica a cada dia.

Ela apenas abaixou os olhos, agora completamente sem graça.

- Olha só. Não precisa ficar sem graça. É sério, querida. Não estou te sacaneando ou coisas afins. Estou dizendo a verdade. Apenas isso. Quer um cigarro?
- Você precisa parar de fumar seu tonto – ela advertiu – Está ficando cada dia mais crônico esse vício.
- Dos poucos vícios que eu tenho, talvez esse seja o menor.
- Poucos vícios? Hahaha, sei – ela gargalhou – Bem, preciso ir. Depois nos falamos, my dearest and beautiful friend. Tchau – ela disse, indo embora do Clube Varsóvia

- Ei? – ele disse, antes de ela partir – Estela.
Ela virou-se e disse – O quê?
- Estela.
- Quem é Estela? – ela perguntou.
- Era o nome dela. Estela. Uma garota adorável, fantástica. Um doce.
- E?
Ele encarou o fundo do copo de tequila, agora vazio, e disse, nostálgico – Uma garota na minha classe do colegial. Nunca vi tanta molecagem e tanta brincadeira e tanta vida e tanta energia naquela garota. Ela sabia de rock, de garotos, de cigarros, de bebidas, de namoros, de brincadeiras, de poesia, de tantas coisas. E estava sempre sorrindo. Sempre. Uma moleca. Uma adorável e irresponsável moleca, mas, porra, quem precisa ser responsável quando se tem a vida toda pela frente?
- E o que aconteceu com ela?
Ele a olhou nos olhos e disse – Não sei. Nunca mais soube dela.
- Mais uma das suas molecagens, então. Sair da sua vida sem avisar.
- Você não vai fazer isso comigo também, né? – ele perguntou, charmoso.

Ela nada disse. Apenas assoprou um beijo, mostrou a língua, deu seu melhor sorriso e começou a ir embora do Varsóvia.

Ele ficou lá sentado por algum tempo, pensando em todas as bobagens da sua vida, quando, do nada, foi interrompido por um garçom com um bilhete na mão.

Claro que não, seu bobo. Claro que não. A minha maior molecagem é estar sempre do seu lado.
Beijos
Ana


E ele sorriu. Feliz por ter e por também não ter a sorte de que tanto precisava. De que tanto precisava.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Ela Gritou

leia e ouça || Echo And The Bunnymen || Back of Love “ I'm on the chopping block chopping off my stopping thought self doubt and selfism were the cheapest things i ever bought when you say it's love d'you mean the back of love when you say it's love d'you mean the back of love? ” Madrugada. Silêncio. Vida. Noite. Um cigarro aceso. Vários cigarros acesos. Um copo americano cheio de álcool. Vários copos. Lágrimas. Choro. Vida. Madrugada. Silêncio. Horas. Noite. Tudo. Tudo. Madrugada. Vida. Ela. E ela? Ela apenas gritou. E de forma tão alta e tão forte e em um tom nada brando, em ato de coragem, em gesto de desespero. Ela gritou. Ela apenas gritou. Imaginava ele no aeroporto indo embora. Naquela noite. Naquela maldita noite. Indo para uma viagem insana em países nórdicos desconhecidos. Ela chorou. Ela gritou. Tentou de tudo para ficar com ele. Tentou de tudo para ser feliz. Tudo. E foi. Foi MUITO feliz ao lado dele. Mas, agora, sobrou o cigarro aceso, o incenso queiman...

Luar || Penumbra || Sonho || Amor

leia e ouça: Sunset Rollercoaster - I Know You Know I Love You “ Watch the sky, you know I Like a star shining in your eyes Sometimes I wonder why Just wanna hold your hands And walk with you side by side I know you know I love you, baby I know you know I love you, baby ” (Sunset Rollercoaster - I Know You Know I Love You) Penumbra. Madrugada. 4:10 da manhã. Luz? Apenas a luz do luar combatendo as frestas da persiana mal fechada e que estava sofrendo bastante com as rajadas do vento cortante vindo ao seu encontro de forma incessante e dura. Sábado. Frente fria. Penumbra. Madrugada Amor. 4:13 da manhã. Luz? Apenas a dela. Do delicioso e escultural corpo. Dela. Aquele corpo nu ao seu lado, descoberto delicadamente e de forma não intencional pelos movimentos da noite. Linda. Sensual. Impecável. Escultura para os apaixonados. Como ele. E ele apenas a observava sob a luz do luar forte. Lua cheia. Lua cheia de amor, paixão, ímpeto, vontades, desejos, lua cheia. Lua cheia de vida. Lua cheia d...

Talvez

leia e ouça: Sinéad O'Connor || Love Letters   “ Love letters straight from you heart Keep us so near while apart I'm not alone in the night When I can have all the love that you write I memorize every line And I kiss the name that you sign, oh And darling then I read again Right from the start Love letters straight from your heart ” Talvez Talvez ser Talvez crescer Talvez nascer Talvez viver Talvez morrer Morrer? Não Talvez… Apenas talvez Talvez Talvez ser Madrugada Olhos da lua Cores fatigadas Talvez Talvez apenas ser Vida cruel que suga e é sugada Talvez Ser Talvez todo dia Talvez toda noite Talvez todo dia Talvez sorte  Talvez não Talvez má sorte Talvez não Talvez bom azar Talvez não Talvez tudo Talvez nada Talvez vida Talvez morte Talvez uma jornada Talvez Talvez necessário dizer  O que precisaria ser dito Talvez não manter Abafado este grito Talvez Talvez beleza Talvez tristeza Talvez grandeza  Talvez lerdeza Talvez vida Talvez não Talvez tudo Talvez nada ...

Going Down

leia e ouça: lou reed || going down “... Time's not what it seems. It just seems longer, when you're lonely in this world. Everything, it seems, Would be brighter if your nights were spent with some girl Yeah, you're falling all around. Yeah, you're crashing upside down. Oh, oh, and you know you're going down For the last time …” Lou Reed || Going Down E o sonho avançava. Apenas avançava. A noite tinha apenas começado. … - Ei mocinha. Mocinha? Me ouve? Ela chacoalhou os cabelos castanhos desgrenhados, um monte de nós sem sentido, apenas ela, virou o rosto confuso e encarou aquele sujeito grande, intimidador, com cara de bravo e que estava imóvel à sua frente, um verdadeiro brusco naquele cenário. - Então, me ouve? Está me ouvindo? - aquele grandalhão insistiu - Me ouve, porra? - disse, de modo grosseiro. Ela olhou com um tanto de medo e sem saber exatamente o que fazer, o que dizer, o que mexer, o que responder, nada disse. Apenas, nada disse. - Você entende? É surd...

FIREWORKS

- Ai, que merda! - ela gritou, visivelmente irritada. - Tá louca? - ele respondeu, surpreso com o tom de voz dela. - Odeio esta música. DJ idiota - ela emendou - O Clube Varsóvia já foi melhor. Imbecil de escolher isto para o ano novo. - Você é louca? - ele perguntou, sério. - Não, porra, sou louca não. - Mas parece. Caralho. Há quanto tempo você vem no Varsóvia e NUNCA disse isso. O que há? Algum problema? - ele perguntou. Ela balançou a cabeça e seus olhos ficaram cheios de água - Nada - ela disse e confirmou - Nada. Não aconteceu porra nenhuma. - Como assim, nada? - ele questionou - Desde quando você fica transtornada assim? Por tão pouca coisa? Desde quando uma canção escolhida por um DJ idiota te tira do sério? - Nada, puta que o pariu. Nada. Pode ser? - ela disse, bastante brava. - Qual seu problema Lisa? Posso saber? Ela apenas abaixou a cabeça. - Me diz - ele insistiu. Ela ficou em silêncio por alguns instantes e emendou - Hoje é primeiro de Janeiro. Ele a olho...