Ele acendeu (mais) um cigarro naquela sala escura e solitária.
Quase fim da
madrugada.
Quase fim da
madrugada.
Ele deu uma tragada
longa e virou (mais) um copo americano de vodka barata naquela sala escura e solitária.
Mais um cigarro.
Mais fumaça.
Mais vodka.
Mais lembranças.
Muito mais
lembranças.
Muito mais.
E nenhum incenso aceso.
Nenhum.
Falta dela.
E o batom dela era
muito, mas muito vermelho.
Muito mesmo.
Disso ele sempre
lembrou.
Sempre.
Batom vermelho
daqueles que sequer “desmontam” na piscina de uma apresentação de nado sincronizado.
Sequer “desmontam”
em qualquer ocasião.
Jamais.
Água, tempestade ou
beijos ardentes.
E a luminosidade
era nula ou quase pouca naquela sala vazia, exceto pela chama opaca e amarela do
cigarro vagabundo que ele fumava.
Quase fim da
madrugada.
Quase fim.
E ele sequer queria
levantar do sofá para virar o lado do seu velho disco de vinil cujo lado B já
havia acabado há tempos.
Ele acendeu (mais) um
cigarro naquela sala escura e solitária.
Quase fim da
madrugada.
Quase fim da
madrugada.
Ele de uma tragada
longa e virou (mais) um copo americano de vodka naquela sala escura e solitária.
Mais um cigarro.
Mais fumaça.
Mais uma vodka vagabunda.
Mais lembranças.
Muito mais
lembranças.
Muito mais.
E nenhum incenso.
Nenhum.
E o batom dela era
muito, mas muito vermelho.
Muito mesmo.
E, na verdade, era
tudo o que ele queria sentir naquele fim de madrugada.
Tudo o que ele
queria sentir.
Aquele batom vermelho.
Apenas isso e tudo mais.
Tudo.
“crepúsculo
cre·pús·cu·lo
sm
1 Luminosidade que precede o nascer do Sol ou persiste por
algum tempo após o ocaso e que provém da dispersão da luz solar nas camadas
superiores da atmosfera.
2 O tempo que dura essa luminosidade.
3 FIG Perda da força ou da importância; decadência,
declínio, ruína.
4 P US, FIG O momento inicial de alguma coisa;
começo, princípio, prelúdio.”
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