MANHÃS DE VODKA, BEIJOS E ESTÓRIAS DE AMOR
Ele acordou de repente e olhou para o relógio, lento. Verificou que já era quase cinco e meia da manhã. Pôde ouvir as gotas da chuva pesada que explodiam na janela, como querendo transformá-la em um oceano de estilhaços. Resolveu que já era hora de levantar. O fez sem muito barulho. Foi até o banheiro e na volta ficou parado, em pé, observando aquela mulher linda que dormia profundamente na sua cama. Ela era realmente muito bonita. Tinha os cabelos pretos como um show do Bauhaus. Seu corpo nu era espetacular. A tatuagem estilizada nas costas era tímida e de impacto. De alto impacto. Muito boa – ele pensou. Continuou lá, parado, observando aquela mulher dormindo e mal podia acreditar que, depois de muito tempo, ele finalmente acordava feliz. Muito feliz. Pensou que esse era um bom motivo para uma comemoração. Mais um dos inúmeros brindes solitários que ele adorava dar. Foi até a cozinha e sacou a garrafa de vodka do congelador. Que se foda que ainda nem escovei os dentes. Melhor – pensou, enquanto abria a garrafa e deitava um pouco do líquido consistente em um copo velho, daqueles de requeijão, o único que estava limpo àquela altura da manhã. Deu um gole e se deliciou com o tapa etílico a que foi submetido. Voltou ao quarto e sentou no chão frio para observá-la ainda mais. Com o barulho forte da chuva, ela acordou, devagar e confortável, e sorriu em sua direção.
- Já de pé? Bom dia – ela disse, ajeitando seu corpo nu na cama imensa.
- Acordei agora há pouco. Quer um gole? – ele perguntou, oferecendo o seu copo, ainda pela metade.
- O que é?
- Remédio para manhãs chuvosas. Vodka – ele respondeu, sorrindo.
- Daqui a pouco.
Após a breve conversa eles decidiram apenas se olhar, em silêncio, por alguns minutos, ao som da tempestade que desabava lá fora e sob o cheiro de vodka que preenchia o quarto. Assim o fizeram. E com muito carinho. Com um conforto enternecedor. Fazia muito tempo que ele não sentia algo assim. Fazia muito tempo que ele não acordava e se sentia assim, simplesmente feliz. Quis gritar, dizer a ela alguma coisa, cantarolar uma canção de Brian Molko, enfim, fazer algo que deixasse bem claro a sua felicidade. Achou que o melhor a fazer era apenas ficar ali, sentado naquele chão frio, observando aquela linda mulher nua em sua cama.
- Você acredita em paixão à primeira vista? – ele perguntou.
Ela sorriu e respondeu – Não, por quê?
- Depois eu te explico, agora só me dá um beijo – respondeu, inclinando seu corpo e beijando aquela linda mulher de cabelos escuros como um show do Bauhaus.
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