- Você gosta de umas músicas estranhas – ela disse, sem crítica,
sem censura, mais em um tom de constatação. Um tom de realmente entender quem
estava ao seu lado - Não é possível não estar amando o que o DJ está tocando
esta noite. Ele está perfeito como a lua cheia. Romántico, divertido,
sarcástico, funny, alegre. Se, por acaso, fossem aquelas porras
de bandas “chuvosas” da Nova Zelândia, você estaria vibrando. Mas como eu gosto
né? Você fica aí bufando como um velho.
- Ele apenas sorriu e concordou com a cabeça, impressionado em
como ela a conhecia.
- Você é bem estranho – ela brincou – Tenho medo de você. Não
uma coisa “Jason Voorhes”, Sexta Feira Treze, mas tenho medo de você.
Definitivamente.
Ele deu uma gargalhada sonora com a brincadeira e disse – Medo?
Medo de mim? Sou tão pura e sinceramente inofensivo – ironizou – Ninguém
consegue ter medo de mim. Ninguém pode ter medo de mim.
- Por isso mesmo o medo. Pessoas assim assustam. Freak boy. Medo
de gostar mais de você do que já gosto – disse.
Ficaram em silêncio se observando por alguns instantes. Mãos
trêmulas, tequila e vontade de fumar e beijar.
- Tá cheio demais o Clube Varsóvia hoje, não? – ela mudou de
assunto, esperta, enquanto acendia um cigarro.
Ele tomou um gole grande de tequila antes de emendar - Muito.
Gente demais neste Clube hoje. E gente demais me dá preguiça, você sabe.
Prefiro muito menos seres humanos ao meu redor. Muita gente cansa e atrapalha.
Ela sorriu do jeito ranzinza dele. Já acostumada e adorando.
Romántico com a lua em Libra estampada no seu mapa astral e atraente com o
ascendente em Leão. Eterno geminiano.
- Trouxa – ela respondeu.
- Ué? Não entendi. Preciso gostar de pessoas agora?
- Porra, de vez em quando é bom né? Pode ser bom gostar de
pessoas. Você será menos amargo.
- Gosto de algumas pessoas. Já não basta? – ele provocou.
- Não entendi – ela respondeu.
- Sonsa. Detesto quando finge não perceber as coisas.
Ela sorriu linda demais.
- Azulejos de veludo – ele disse enigmático.
- Como? – ela perguntou sem entender.
- Eu queria não estar aqui agora com você– ele falou.
- Não? – ela respondeu.
- Eu queria estar era em uma sala com azulejos de veludo
coloridos, só nós dois, totalmente nus e fazendo amor como se não houvesse
amanhã. Não haveria mais ninguém e o som dos nossos gritos ficariam eternizados
nas entranhas dos azulejos. Apenas para nós dois. Apenas para nós dois.
Ela engoliu em seco diante da declaração apaixonada daquele
filho da puta e, corada como uma cereja virou um copo cheio de tequila e matou
o resto do seu Marlboro – Vamos pedir a conta? – pediu, com um sorriso no
rosto.
- Com toda a certeza – ele respondeu – Gente demais me dá
preguiça. Prefiro poucas e boas pessoas ao meu lado. Prefiro poucas e boas,
como as bandas nebulosas da Nova Zelândia, como as bandas nebulosas da Nova
Zelãndia...
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