O taxista resolveu, meio que do nada, parar no boteco sujo no
centro da cidade para tomar um café preto quente e animador. Queria acordar,
pois a noite estava foda e ele estava exausto para caralho e ainda precisava
ganhar uma grana. Precisava pagar a diária e a gasolina e a noite daquele
sábado precisava inteirar o seu domingo. Noite de sábado sempre foi para
faturar e a madrugada ainda era alta. Bastante alta. Hora de a molecada sair
das baladas com muito álcool e aditivos na cabeça, sem condições de dirigir.
Táxis fundamentais nesta hora. Fundamentais mesmo. Sentou junto ao balcão, e,
cansado percebeu pelo espelho à sua frente uma garota linda, ruiva, sentada ao
seu lado. Ela chamou a atenção, pois não tinha absolutamente nada a ver com
aquele boteco sujo do centro da cidade. Nada. Ele ficou quieto e nada falou.
Pediu o seu café ao balconista sem NENHUM açúcar para continuar acordado até o
amanhecer. Ficou calado e percebeu simples, e após alguns instantes, que a moça
ruiva próxima a ele estava chorando. Chorando muito. Quase alto e muito triste.
Nada discreta. Nada discreta, mas foda-se, não havia ninguém no boteco além de
uns bêbados que sequer sabiam o seu próprio nome. Ela mexia no seu celular
de forma incessante e parecia uma louca mandando mensagens, uma atrás da outra.
Chorava copiosamente. Muito triste e muito linda. Triste cena para noites de
sábado. O taxista tomou o seu café, amargo como a noite solitária. Pagou a
conta e se levantou do balcão. Ao ir embora, deu uma última olhada em direção à
moça ruiva e percebeu que ela continuava chorando. Muito. Muito mesmo. Ao
deixar o boteco viu um garoto novo, adolescente, vendendo rosas baratas e de
pouca categoria. Ele comprou algumas. Escreveu um bilhete rápido com seu
português raso e pediu gentil e mediante uma graninha, para que o menino as
entregasse para a moça ruiva no balcão só depois que ele entrasse no táxi e
estivesse indo embora. Não queria se identificar. E assim o garoto o fez.
Quando a garota recebeu as rosas vermelhas ficou surpresa e tentou descobrir o
que estava acontecendo. O menino nada falou. Apenas disse – Um admirador. Para
você ficar mais feliz. Ela sorriu e conteve o choro. O bilhete? Simples, apenas
dizia para ela ser feliz. Noites de sábado não precisam de moças lindas
chorando. Definitivamente não precisam de moças lindas chorando. Ela sorriu
MUITO feliz. Muito feliz mesmo. Ele deu a partida em seu táxi branco e partiu.
Ganhou a diária e muito mais naquela noite de sábado. Definitivamente.
Definitivamente.
DISCOS DE VINIL NÃO SALVAM VIDAS? - Discos de vinil não salvam vidas - Bia sentenciou, profana e canalha Nanda abriu os olhos em choque - Não? Como não? - Não, porra. Definitivamente, discos de vinil ou fitas cassete ou ipods ou seja lá o diabo, não salvam vidas. Não. - Você enlouqueceu? - disse Nanda. Bia sorriu um sorriso sinistro, triste, inadequado à felicidade. Adequado ao seu momento. - Claro que salvam. Se você não desistir de se matar ao ouvir Marvin Gaye e Tammi Terrell juntos e cantando apaixonadamente, então não sei o que mais pode te ajudar. - Nhá. Isso é para você, ingênua e esperançosa. - Se eu me fodesse, não me afogaria em etanol barato. Me afogaria em lágrimas ao som de um bom soul dos 60s. Estaria salva. - Que patético. - Você precisa de um choque de realidade. Um choque de vida. Você precisa de cores. = Vai começar. Já te disse para parar - pediu Bia. - Parar nada. Você precisa mesmo. De vida, porra. - Pára de encher. Você está me irritando - disse Bia. - Eu precis
Comentários