- Um brinde – disse repentinamente Leticia à Estela, levantando
a sua taça repleta de vinho.
Estela a olhou de forma curiosa e divertida e levantou também a
sua taça de vinho – Um brinde – repetiu.
- Um brinde às melhores amigas do mundo – disse Leticia – Que
somos nós, afinal – completou.
Estela riu da besteira da amiga já visivelmente “alta” pelas
doses de vinho e concordou com a cabeça – Sim. Um brinde às melhores amigas do
mundo – concordou Estela – Que somos nós – emendou rindo.
- Ah, e um brinde ao Edu. O gênio que te tirou de mim – emendou
irônica.
- Pára Leticia. Você sabe que não é verdade – disse Estela.
- Claro que sei, claro que sei. Estava apenas brincando.
Brincadeirinha boba – sorriu.
- Boba – respondeu Estela, logo após um gole do vinho e um
Marlboro aceso.
- Você vai sentir a minha falta? – perguntou Leticia, de forma
abrupta, logo após tomar um longo gole do vinho em sua taça e, também, acender
um cigarro.
Estela olhou-a curiosa, sem entender – Como assim? Sentir sua
falta? – perguntou.
Leticia deu uma gargalhada e respondeu – Exato. Sentir minha
falta. Isto não é uma despedida de solteira? – perguntou com certa malícia, com
sacanagem.
- Não exatamente – respondeu Estela sem jeito – Não exatamente –
continuou - Apenas é o jantar da minha despedida deste apê. Não é porque estou
indo morar com o Edu e vou sair deste apartamento que dividimos há anos que vou
deixar de estar presente na sua vida como sempre estive. Como sempre estive –
frisou – Você vai continuar sempre aqui e aqui – disse apontando para seu
coração e cabeça.
Leticia tomou outro gole largo do vinho em sua taça e disse,
segurando o choro – Eu sei querida. Eu sei. Imagino.
- Espero – reiterou Estela – Jamais vamos deixar de ser amigas,
irmãs, almas gêmeas, whatever. Vamos estar sempre juntas. Você sabe disso. Até
o fim. Para o que tiver que ser.
- Desculpe. Eu estava brincando – disse Leticia.
Estela apenas sorriu.
Eu te amo Estela.
Não vai, por favor – pensou Letícia, tentando, com todas as forças, segurar as
lágrimas e não transparecer com o seu olhar verde o que sentia no fundo do
peito.
- Quer mais vinho? – perguntou Leticia, com um sorriso pesado e
triste, desviando o assunto.
- Claro – respondeu Estela – Sempre. Vinho e melhores amigas. A
combinação perfeita para uma vida perfeita – respondeu entregando o seu copo à
Leticia.
Eu te amo Leticia. Eu te
amo mesmo. Mas não do seu jeito. Entenda. Eu preciso ir, por favor. Por favor –
pensou Estela, enquanto Letícia deslizava com seu corpo delicioso e longilíneo
até a cozinha, tentando Estela, com todas as suas forças, segurar as lágrimas e
não transparecer com o seu olhar azul o que sentia no fundo do peito.
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