Eles moravam em lugares distantes um do outro. Muito. Muito
distantes. Cidades diversas e longínquas. Dois Estados. Conheceram-se graças ao
destino. A melhor forma de se conhecer, afinal. No entanto, a distância não era
um problema para os dois. Definitivamente não era um problema algum. Eles se
gostavam como raros meninos e meninas se gostam. Coisa pouco usual de se ver.
Coisa pouco usual de se vivenciar de sentir. Certo dia, ele recebeu uma foto
dela pelo correio. Ficou surpreso com a beleza do que viu. Ele já a tinha
visto, claro, mas ela estava linda, linda demais, casual e vestida com um
vestido de verão lilás com pequenos detalhes em verde. Um vestido para
provocar. Um vestido de verão para colos lindos como o dela. Para poucos
decotes privilegiados e poucos seios deliciosos. Como os seios dela. Vestido
lindo. Lindo vestido lilás. E ele enlouqueceu. Não acreditou na perfeição da
foto e nos detalhes incertos do que ele NÃO via além do vestido. O desenho que
alguém fez dela. Como pode? Amou o que viu. É preciso estar sempre por um triz.
É preciso sempre estar por um triz. Ligou para ela imediatamente. Ela atendeu.
Ele agradeceu. Ela sorriu. Ele tremeu. Ela também. Falaram durante horas sobre
o que devia e o que não deveria ser dito. Ótimo. Um calor insano tomou conta do
corpo dos dois. Insano. Ele não parava de elogiar o seu belo (decote) vestido
lilás. Tentou ser gentil e, durante toda a conversa, não perdeu a linha (ao
menos no seu conceito). Trocaram juras de amor e promessas de novas conversas.
Novas e deliciosas conversas. Desligaram. Ela? Acendeu duas velas coloridas,
baixou a luz do quarto e ligou o seu Ipod. Caiu na cama, insana e doida, e
tirou com força o vestido lilás com cheiro de jasmim e a lingerie preta de
renda fina para os dias especiais (como aquele) que estava usando. Muito calor
naquela cidade fria. Muito calor naquela noite. Ela mal aguentava e sequer
conseguia ouvir as canções ao fundo. Um toque, dois toques, três dedos no lugar
certo com as suas unhas lindas vermelhas e pronto, sentiu a distância sumir e
sentiu o beijo dele nos seus seios lindamente enfatizados por aquele decote.
Podia jurar que ele estava lá com seu cheiro de hortelã, beijando o seu corpo,
a sua virilha, as suas coxas e os seus joelhos. Ele? Fez algo muito parecido a
ela, com exceção das velas. Repleto de calor, transpiração, gozo e suor, ele
foi feliz, apenas imaginando o que havia além daquele decote lilás. Apenas
imaginando o que havia além daquele decote lilás.
- Não há nada a desculpar – ele disse pouco tranquilo, muito mentiroso, entre os copos de vodka, as mesas e o barulho do Clube Varsóvia, tentando desviar do olhar adorável, inesquecível e maravilhoso daquela garota à sua frente. Ele a amava. Ela o olhou com ternura e amizade e fez um carinho breve e gentil no seu cabelo. Por instantes, breves instantes, ela lembrou de todo o afeto e paixão que sentiu por ele no passado. Todo o carinho, o afeto e o amor que sentiu por ele em um passado não tão distante. Como foram felizes. - Fica tranquila – ele disse e continuou - Nada a desculpar mesmo. Tudo em ordem do meu lado – ele prosseguiu – Você gosta de MPB mesmo. Eu detesto – completou, com um sorriso. - Você mente mal. Muito mal mesmo sabia? Quase um canastrão – ela brincou e continuou – Esqueceu que te conheço há um tempinho? - Muito tempo? – ele perguntou, tentando disfarçar, enquanto acendia um Marlboro – Dentre as mentiras da vida, duas nos revelam mais – recitou, citando a antiga c...
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