Ela era cheia de
dedos nas mãos.
Repleta deles.
Repleta.
Muito mais do os
nossos dez dedos.
Muito mais.
Dedos que tocavam,
que acariciavam, que deslizavam.
Arrepios.
Umidade.
Suor.
Arrepios.
E naquela cama fofa
e velha do quarto do Hotel Varsóvia ela adorava sentir o seu perfume, o seu
cabelo macio, a sua pele lisa.
Duas meninas
lindas.
Lindas.
E Clara era cheia
de dedos nas mãos.
Repleta deles.
Repleta.
E Carol era cheia
de cordas no corpo.
Repleta delas.
Repleta.
E nem as surradas
cortinas do Hotel Varsóvia ou o carpete velho ousavam corar.
Não ousavam.
De forma alguma.
Apenas assistiam e
aplaudiam em silêncio.
A plenitude do
amor.
A plenitude do
gozo.
A plenitude de
tudo.
Em forma de dedos,
acordes, cordas e muito, mas muito amor.
Como namorar uma
pianista não é difícil.
O que se deve é
namorar a quem se ama.
A quem se ama de
verdade.
De verdade.
Como uma sonata húngara
do século XIX.
Apenas isso.
Apenas...
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