Ela olhou para ele com ternura e muito carinho. Suspirou
profunda e longamente. Ele era o seu Ringo Starr. O seu preferido, o seu
preferido de todo o sempre e de todos os tempos. O seu ídolo e hitmaker do
coração. No entanto, não acreditava naquele bobo dormindo, desmaiado no seu
sofá. Porra, mesmo com a justificativa do litro de Campari barato que tomaram
sozinhos, ela continuava sem acreditar em tudo o que ouviu dele ao longo das
últimas horas. Continuou sem acreditar no que conversaram e no que foi dito por
ele naquela noite e madrugada. Os recados dados, as indiretas, as confissões
atrasadas, os medos, os receios, as besteiras, a preferência dele pelo Campari.
Ela ficou triste, porém resolvida. Sexy Sadie por demais. Ficou sem acreditar
na imaturidade dele, nos medos e nas bobagens que ele disse e, infelizmente,
nas merdas que ele assumiu fazer depois. E ele fará. Ficou melancólica.
Respirou fundou e foi para o quarto. Pegou um lençol verde barato e leve que
estava no seu quarto e o cobriu com carinho e doçura. Estava um calor dos
infernos naquela metrópole, mas a tempestade que desabava lá fora podia causar
vento, gripe e dor e, convenhamos, gripe no verão é muito pior do que amores
mal resolvidos. Causa muito mais mal estar. Pode apostar. Ela olhou mais uma
vez para ele com ternura e amor. Fez um cafuné nos seus cabelos totalmente
detonados e desgrenhados ao longo do sofá e tentou, por um breve instante,
imaginar o que aquele “idiota” sonhava. O que ele queria além de ser feliz. O
que ele “realmente” sonhava. O que ele era. Realmente. Deu um beijo breve, leve
e lindo em seu rosto e lhe desejou, em sussurro, uma boa noite. Uma boa noite,
repleta de sonhos adoráveis e anjos bons. Fumou um último baseado rápido
enquanto apreciava a tempestade e enquanto apreciava aquele garoto lindo
dormindo em seu sofá e foi dormir com a sensação de dever cumprido e com o
coração leve. Ela ouviu uma última vez os raios que despencavam lá fora e teve
a certeza de que, pela manhã, ele não estaria mais ali. Naquele sofá e nem coberto
por aquele lençol verde. Ele nunca mais estaria ali. Nunca mais. Dormiu em paz
e teve sonhos bons. Sonhos muito bons...
leia e ouça: lou reed || going down “... Time's not what it seems. It just seems longer, when you're lonely in this world. Everything, it seems, Would be brighter if your nights were spent with some girl Yeah, you're falling all around. Yeah, you're crashing upside down. Oh, oh, and you know you're going down For the last time …” Lou Reed || Going Down E o sonho avançava. Apenas avançava. A noite tinha apenas começado. … - Ei mocinha. Mocinha? Me ouve? Ela chacoalhou os cabelos castanhos desgrenhados, um monte de nós sem sentido, apenas ela, virou o rosto confuso e encarou aquele sujeito grande, intimidador, com cara de bravo e que estava imóvel à sua frente, um verdadeiro brusco naquele cenário. - Então, me ouve? Está me ouvindo? - aquele grandalhão insistiu - Me ouve, porra? - disse, de modo grosseiro. Ela olhou com um tanto de medo e sem saber exatamente o que fazer, o que dizer, o que mexer, o que responder, nada disse. Apenas, nada disse. - Você entende? É surd...
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