Ele mal dormiu. Mal dormiu. Quando acordou e olhou no espelho
ficou assustado com as olheiras e o rosto inchado. Precisava trabalhar e se
sentia um lixo. Caralho. Durante a madrugada, virou-se de um lado para o outro,
de um lado para o outro, como um boneco, como se estivesse em um baile de
caranaval. A noite toda. A noite toda. Suado, molhado, exausto, ele não
conseguiu dormir. A sua testa (e o seu corpor) exalava calor. Não conseguiu
focar no simples ato de dormir. Não. Nem fodendo. Pensamentos, pensamentos e
pensamentos. Ah, malditos pensamentos, eles iam e vinham, infernizando e
atormentando a sua noite. Pensamentos proibidos como se mãos invisíveis
tocassem todo o seu corpo ao longo da madrugada. Ele delirou de prazer.
Delirou. Sorria e esquecia, totalmente, de dormir. Queria um gole de vodka. “O esforço para lembrar é a vontade de
esquecer”, lembrou da canção. Ela estava lá. Ele tinha certeza. Naquele
quarto. Seja em qual matéria, seja em qual forma, seja em qual estado, seja em
qual tipo de pensamento ou crença, ela ficou no seu quarto durante toda a
noite. Ele tinha certeza disso. Pobre rapaz. Dormiu, não dormiu, suou, acordou,
gozou, enfim, teve uma madrugada daquelas. Daquelas típicas de verão sem
chuva... porém com MUITO, mas muito suor e prazer. Pobre e feliz rapaz...
DISCOS DE VINIL NÃO SALVAM VIDAS? - Discos de vinil não salvam vidas - Bia sentenciou, profana e canalha Nanda abriu os olhos em choque - Não? Como não? - Não, porra. Definitivamente, discos de vinil ou fitas cassete ou ipods ou seja lá o diabo, não salvam vidas. Não. - Você enlouqueceu? - disse Nanda. Bia sorriu um sorriso sinistro, triste, inadequado à felicidade. Adequado ao seu momento. - Claro que salvam. Se você não desistir de se matar ao ouvir Marvin Gaye e Tammi Terrell juntos e cantando apaixonadamente, então não sei o que mais pode te ajudar. - Nhá. Isso é para você, ingênua e esperançosa. - Se eu me fodesse, não me afogaria em etanol barato. Me afogaria em lágrimas ao som de um bom soul dos 60s. Estaria salva. - Que patético. - Você precisa de um choque de realidade. Um choque de vida. Você precisa de cores. = Vai começar. Já te disse para parar - pediu Bia. - Parar nada. Você precisa mesmo. De vida, porra. - Pára de encher. Você está me irritando - disse Bia. - Eu precis
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