Pular para o conteúdo principal

O AMOR E O BALCÃO DO BAR


- Eu gosto de pessoas que escrevem – ela disse, depois de acender um cigarro.

- Eu prefiro as pessoas que lêem – ele respondeu, tentando parecer charmoso, pobre babaca – Simples assim – completou, idiota.

- Aqui, no Clube Varsóvia, é bem mais fácil encontrar pessoas que fumam e bebem e se picam do que pessoas que gostam de uma boa leitura – ela emendou.

- Ah, isto não é exatamente uma verdade – ele tentou argumentar - Não mesmo, O pessoal que vem aqui gosta de tudo. Todas as coisas, todos os estilos, todas as escolhas, por mais insanas e bizarras que possam ser. Até livros.

- Eu prefiro os escritores – ela continuou, com um sorriso sacana no rosto.

- Eu gosto mais ainda das leitoras – ele retrucou, no mesmo tom.

- Quer dançar? – ela perguntou direta.

Ele engasgou e saiu pela tangente – Não. Na verdade prefiro escrever sobre danças e dançarinas. Só isso.

- Medroso – ela provocou - Bem, não sabe o que está perdendo. Eu adoro dançar. Então, sorry, lá vou – finalizou e disparou rápida em direção á pista, como se fosse uma adolescente repleta da mais pura energia.

Ele pegou seu copo de vodka sobre o balcão e enquanto bebericava alguns goles ficou observando-a enquanto ela começava a sua dança louca, pogo definitivo, punk made seventies, repleta de trejeitos, poses, posições, caras e bocas. Ele a observava e pensava sincero, como seria possível o relacionamento deles dar certo. Como um otário e bobo como ele, ainda impregnado com seus devaneios juvenis, como se adolescente ainda fora, pudesse se interessar por uma garota tão mais nova, tão mais madura, tão mais esperta, tão cheia de vida como ela. Ela dançava e dançava e dançava. Não havia amanhã. E, cruel, ela jamais olhava para ele. Intencional. Ela sabia estar sendo observada e, ainda assim, amava ser a caçadora e não a caça. Ela ria e ele, tolo, acreditava que o sorriso era apenas em razão da música adoravelmente insana explodindo nas caixas de som do Clube Varsóvia. Não. Não era. Ela sorria sabendo que ele a queria, a desejava, a admirava, e muito. Muito mesmo. Eles ficariam juntos? Destino? Acaso? Promessas? Bem, ao menos nos próximos minutos, nas próximas horas, nos próximos dias talvez algo rolasse. Nada eterno. Nada eterno. Tão duradouro como o que tivesse que ser. Tão duradouro como o gelo despejado num copo de vodka no calor do Clube Varsóvia.

Assim é o amor em tempos de nada. Assim é o amor. Duradouro como gelo num copo quente de bebida barata destilada.


...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Going Down

leia e ouça: lou reed || going down “... Time's not what it seems. It just seems longer, when you're lonely in this world. Everything, it seems, Would be brighter if your nights were spent with some girl Yeah, you're falling all around. Yeah, you're crashing upside down. Oh, oh, and you know you're going down For the last time …” Lou Reed || Going Down E o sonho avançava. Apenas avançava. A noite tinha apenas começado. … - Ei mocinha. Mocinha? Me ouve? Ela chacoalhou os cabelos castanhos desgrenhados, um monte de nós sem sentido, apenas ela, virou o rosto confuso e encarou aquele sujeito grande, intimidador, com cara de bravo e que estava imóvel à sua frente, um verdadeiro brusco naquele cenário. - Então, me ouve? Está me ouvindo? - aquele grandalhão insistiu - Me ouve, porra? - disse, de modo grosseiro. Ela olhou com um tanto de medo e sem saber exatamente o que fazer, o que dizer, o que mexer, o que responder, nada disse. Apenas, nada disse. - Você entende? É surd...

Você

leia e ouça: U2 | bad Você. Você é intensa demais, e eu a amo. Muito. Você. Sim, você mesmo, você sabe a quem me refiro: VOCÊ! Você tem os cabelos mais desgrenhados, bagunçados e divertidos do mundo. E eu amo. Você. Cada detalhe, cada aroma, cada toque, cada TUDO. Nós. Tem os olhos mais verdes do mundo, e eu a amo. Amo. Amo você. Minha esmeralda. Minha pequena. Minha mãozinha guia. Você. Você. Apenas você! A mulher que mais merece ser cafuneada no universo, na galáxia, em tudo. Toda hora, todo dia, todo tempo. Você. Eu a amo. Você. Você mesmo. Tem força, tem garra, tem voz, tem presença, tem vida, tem alegria, tem coerência, tem sorriso, tem empatia, simpatia, tem tudo. Pequena, mas gigante. Você. Eu sou muito honrado de receber e dar seus super likes . Te laqueio todo dia, toda hora. Você é simplesmente essencial, especial, única. Você… simplesmente e unicamente VOCÊ existe para mim. Nada mais. Mais ninguém, E por mais burrices que eu faça, que eu repita, que eu erre, imbecil que so...

Quando Você Ama…

  leia e ouça: surf curse || freaks “...Don't kill me just help me run away From everyone I need a place to stay Where I can cover up my face Don't cry, I am just a freak I am just a freak I am just a freak I am just a freak…” (Surf Curse || Freaks) Quando você vive, você erra. Todos nós. Todos. Todos nós erramos, de um jeito ou de outro. Faz parte. Quem nunca errou? Quem nunca? Só quem não viveu. Quando você vive, você se expõe e acaba errando, cedo ou tarde. Mente quem diz que nunca errou, uma vez que certamente também errou em algum momento da vida e tenta negar isso. Eu? Se eu errei, omiti e menti? Sim. Certamente. Muito. Mais do que seria razoável, muito mais do que seria razoável. E só os Deuses sabem como foi difícil e errado e como me arrependo. Arrependimento? Muito. Arrependimento real e verdadeiro. Mas, a verdade é o mais importante. Sempre. E demorei a entender isso. Demorei MUITO. Muita porrada para entender isso. Muita porrada para entender isso. A transparência. ...

COMO A PÁGINA VIRADA E QUASE ESQUECIDA DE UM LIVRO BOM

- Você acha mesmo? – ela perguntou, com uma expressão de puro espanto. Ele desviou o olhar. Olhou para o teto, tentou disfarçar as lágrimas. Sem sucesso. Depois de um minuto de silêncio sepulcral ela insistiu - Então, eu te perguntei. Por favor, me responda porra. Você acha mesmo? Acredita mesmo no que acabou de me dizer? Acha que vou acreditar que você não estava transando com a maldita nos últimos tempos? Que não se envolveu com aquela vagabunda e me passou para trás. Acha que vou acreditar que você ainda me quer? Ele, finalmente, abaixou a cabeça e a encarou bem nos olhos. Olhos frios e de um verde simplesmente lindo. - Vai, fala! – ela insistiu um tanto impaciente, muito irritada. - Sim. Acho. Não só acho como tenho absoluta certeza – ele, finalmente, respondeu, sentindo na garganta a dor e o peso de estar mentindo verdadeiramente. Ela levou as mãos à cabeça em absoluto transtorno. Não conseguia imaginar a razão de estar vivendo aquela cena – Você é um tre...

O VESTIDO LILÁS

Eles moravam em lugares distantes um do outro. Muito. Muito distantes. Cidades diversas e longínquas. Dois Estados. Conheceram-se graças ao destino. A melhor forma de se conhecer, afinal. No entanto, a distância não era um problema para os dois. Definitivamente não era um problema algum. Eles se gostavam como raros meninos e meninas se gostam. Coisa pouco usual de se ver. Coisa pouco usual de se vivenciar de sentir. Certo dia, ele recebeu uma foto dela pelo correio. Ficou surpreso com a beleza do que viu. Ele já a tinha visto, claro, mas ela estava linda, linda demais, casual e vestida com um vestido de verão lilás com pequenos detalhes em verde. Um vestido para provocar. Um vestido de verão para colos lindos como o dela. Para poucos decotes privilegiados e poucos seios deliciosos. Como os seios dela. Vestido lindo. Lindo vestido lilás. E ele enlouqueceu. Não acreditou na perfeição da foto e nos detalhes incertos do que ele NÃO via além do vestido. O desenho que alguém fez dela. Como...