- Posso te dizer uma coisa? – ele perguntou, cheio de charme
vagabundo, barato, meio bêbado, todo chato.
- Sim – ela respondeu meio seca, toda dura, sem querer
aproximação com ele. Não era o tipo de homem que ela queria. Nem de longe. Nem
de longe, mesmo.
- Seus brincos são verdes e combinam com os seus olhos
castanhos. Adorei a mistura – ele disse.
- Sério? – ela respondeu sem saco, sem a menor paciência – Tem
um motivo para isso – completou.
- Não acredito – ele disse – Não acredito mesmo. Eu sabia que
isso ainda iria acontecer comigo. Coisa de destino.
- Como? – ela perguntou sem entender porra nenhuma.
- Destino, química, paixão, atração. Estas coisas. Adoro brincos
verdes e olhos castanhos. Você se produziu, sem saber, para mim. A vida é
assim. Inexplicável. Destino. Noites de sábado.
Ela olhou para ele com desdém e respondeu seca e direta – Olha,
não quero ser grossa então é melhor deixar para lá. Me esquece.
- Como? Você é linda. Adorei a produção. Toda para mim.
- Querido – ela respondeu, com um tom severo – Não é para você.
- Como? – ele insistiu.
- Esta “produção”, como você diz, é para outro alguém. Para
outro alguém. Não para babacas otários e bêbados. Quer que eu desenhe ou você
entendeu?
Ele a olhou com um misto de raiva e indignação – Sério? Então
cadê ele? Se fosse tão importante estaria aqui. Você não estaria sozinha.
Ela riu e deu uma bela tragada no seu Marlboro. Depois, de forma
direta disse – Ele está aqui seu imbecil. Dentro do meu coração. Apenas dentro
do meu coração. Preciso desenhar ou apenas te dar um murro?
E a noite de sábado continuou. Feliz para uns. Triste para outros.
Coisas de sábados á noite. Sorte de quem está longe. Sorte de quem está longe e
confia...
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